Este capítulo começa:
“E ao terceiro dia”. Se voltarmos no tempo, encontramos que o
segundo dia foi aquele em que Filipe foi encontrado e o primeiro foi o que André
e seu companheiro encontraram seu Centro em Jesus. Vendo essas coisas em um sentido figurativo
ou alegórico, podemos dizer que o primeiro dia
é aquele em que a Igreja é reunida a Cristo; o segundo, no qual Ele é reconhecido como Filho de Deus e Rei de Israel pelo
remanescente piedoso em Israel; o terceiro é o da bênção
e gozo milenares como o fruto do Filho do Homem sendo colocado sobre todas as coisas.
Na ocasião do casamento
em Caná, nenhuma glória externa marcou a presença de Jesus. Seus discípulos estavam lá e Sua mãe também,
mas Ele logo mostrou, pela resposta que deu à Sua mãe, que a iniciativa era Sua e não dela; e também que Sua hora ainda não havia
chegado – nem a hora de Seu sofrimento, nem a hora de Sua glória, quando “todas as coisas” estarão à Sua disposição. Contudo, Ele rapidamente manifestou Sua
glória mostrando que a água estava à Sua disposição e que poderia fazer dela aquilo
que desejasse. Ele transformou a água
da purificação no vinho do regozijo. Este foi o começo de Seus milagres ou sinais, e como um sinal, Ele contemplava
para o resultado final de Sua obra. Não pode haver uma alegria duradoura a não ser sob a base de uma purificação
que Ele realiza, e a alegria que surgirá quando finalmente chegar o dia do matrimônio
a um Israel purificado; isso será o melhor de tudo. O “bom
vinho” é mantido até aquele dia. Este sinal, demonstrando Sua glória, confirmou a fé de Seus discípulos e
pode confirmar a nossa.
Depois de um curto período
ainda na Galileia, subiu à Jerusalém para a Páscoa. Todas essas coisas aconteceram antes de
João ser lançado na prisão e, portanto, antes de Ele entrar mais publicamente no Seu ministério, conforme registrado pelos
outros evangelistas. A cena no templo, registrada
aqui, aconteceu logo no começo de Seu ministério. Ele estava no centro dos acontecimentos
quando chegou ao templo e aqui, no próprio centro, a necessidade de uma obra de purificação era mais fortemente
manifesta. A casa de Deus, Seu Pai,
fora transformada em uma casa de venda – um lugar de comércio e lucro mundano.
Isso ilustra como as
bondosas provisões da lei poderiam ser e foram corrompidas para servir aos fins ambiciosos do homem. Havia instrução sobre essa questão em Deuteronômio
14:22-26, e eles poderiam alegar que estavam apenas fazendo o que a lei permitia. A lei lhes dizia que trouxessem seu dinheiro
e comprassem o que precisassem, mas não apoiava as práticas ambiciosas que haviam introduzido,
transformando a casa de Deus em um centro lucrativo. A mesma coisa em princípio pode ser vista
em nossos dias; tais como santuários católicos com lojas vinculadas onde os devotos
compram velas e outros pertences a altos preços!
O Senhor ainda não havia
rejeitado o templo. Ele o tratou como a casa de Deus, e Ele estava cheio de zelo
por ela. Ninguém poderia resistir a Ele e a Seu “chicote de pequenas cordas” (KJV), e os malfeitores tiveram que ir
por um momento. Os judeus, no entanto, desafiaram o que Ele fez e exigiram um sinal,
como se a irresistível autoridade de Sua ação não fosse sinal suficiente. Em resposta,
Ele lhes deu o grande sinal de Sua própria morte e ressurreição, expressada somente
em linguagem simbólica. O fato era que o templo, como morada de Deus, estava prestes
a ser suplantado por Ele mesmo. Seu corpo era um “templo” muito mais maravilhoso do que aquele que esteve no monte Moriá.
O Verbo habitou entre nós em carne e, portanto, “Deus estava em Cristo” de um modo muito mais profundo e íntimo. A plenitude
da Divindade estava habitando n’Ele. O Templo tinha servido à uma certa função em
Israel, mas agora Ele estava cumprindo essa função de uma maneira totalmente nova.
Desde o início deste evangelho
Ele é visto como rejeitado. Então, aqui, Jesus considera sua animosidade mortal
como certa. Suas palavras são uma predição de que eles dirigiriam suas mãos para
dar-Lhe a morte; derrubando, até onde podiam fazê-lo, o templo do Seu corpo. Eles
o derrubariam e em três dias Ele o levantaria. Note como diz que Ele faria isso.
É igualmente verdade, é claro, que Deus O ressuscitou dos mortos, mas em João 10
Ele fala novamente de Sua ressurreição como um ato Seu próprio. Isto está de acordo
com o evangelho que O apresenta como o Verbo que era Deus e Se fez carne. De todos
os sinais que Ele mostrou, Sua própria ressurreição foi o maior.
No momento, ninguém, nem
mesmo os Seus discípulos, O entendiam. Esta é outra característica do evangelho
de João. Ele é continuamente mal entendido, tanto por amigos quanto por inimigos.
Foi somente após a Sua ressurreição e o consequente dom do Espirito que o real significado
dessas coisas se tornou evidente aos discípulos. Mas isso não é surpreendente. Se
o Verbo Se faz carne, Ele certamente nos falará em linguagem humana: mas Ele também
falará das coisas elevadas que Ele conhece como estando no seio do Pai. Por isso,
as Suas declarações são destinadas a ter neles uma profundidade totalmente além
de qualquer linha de prumo que o homem possui – profundezas que somente o Espírito
Santo pode revelar.
Quando o Senhor falou
figurativamente de Sua ressurreição, Suas palavras não foram entendidas por ninguém,
e as obras de poder que Ele fez tiveram seu efeito em muitas mentes. Os versículos
que encerram o segundo capítulo mostram que os milagres podem produzir uma “crença”
de certo tipo. Muitos em Jerusalém naquela época teriam subscrito o ditado de que
“ver é crer”; todavia, a crença que provém de visão de fatos, que não podem ser
negados, não é a fé que salva dada por Deus. É meramente a convicção intelectual
que, quando testada, colapsa facilmente, como vemos no versículo 66 do capítulo
6.
No momento, as coisas
em Jerusalém deviam parecer bastante promissoras, mas Jesus viu o que estava
abaixo da superfície e o evangelista aproveita a oportunidade para nos dizer isso.
Ele faz a dupla declaração de que Jesus “a
todos conhecia” e que “bem sabia o
que havia no homem”. Ele faz novamente uma afirmação muito semelhante em João
6:64; mas isto em nosso capítulo é o primeiro de uma série de observações semelhantes
que nos revelam a onisciência de nosso Senhor, e estão muito de acordo com o caráter
deste evangelho. Conhecendo estes homens, Jesus não confiou neles. A palavra traduzida
como “confiou” é a mesma que a traduzida como “creram” no versículo anterior, que nos ajuda a ver
que a verdadeira fé não é uma mera convicção mental, mas o comprometimento de si
mesmo em simples confiança para com aqu’Ele em Quem se crê.