terça-feira, 3 de setembro de 2019

JOÃO 15

JOÃO 15


Ao falar de Si mesmo como a Videira, o Senhor adotou uma figura que no Velho Testamento havia sido aplicada a Israel, especialmente em passagens como o Salmo 80:8-18; Isaías 5:1-7. No Salmo 80, a desolação da videira é declarada, mas é feita menção do “Ramo [sarmento – ARC] (v. 15 – KJV) e do “Filho do Homem” (v. 17), “que fortificaste para Ti” (v. 15 e 17). Em Isaías, a razão da desolação é clara. Israel, como a videira, não produziu nada além de uvas selvagens e sem valor. Não havia fruto para Deus. O próprio Jesus foi o ramo (ou vara) fortalecido para Jeová, e agora Ele Se apresenta como a verdadeira Fonte de todos os frutos para Deus na Terra.
Ele era o tronco, Seus discípulos eram as varas, Seu Pai, o Lavrador. Cada vara que estava vitalmente n’Ele produziu frutos. Poderia haver varas n’Ele sem conexão vital, e estas não davam frutos. A ação do Lavrador era em ambas as direções. Onde a vara dá fruto, Ele a limpa para dar mais fruto. Onde não há fruto, Ele tira a vara e o fim dela é a destruição, como o versículo 6 indica. Desta última classe, Judas Iscariotes acabara de ser um triste exemplo.
O verbo no versículo 2 é “limpa”, não “poda”. O Pai purifica o santo frutífero, embora já esteja limpo por meio da Palavra. O Senhor indicou uma limpeza dupla por meio de Suas palavras registradas em João 13:10-14, e encontramos esse pensamento aqui. Como a vara é limpa pela ação do Pai, obstruções são removidas e a vida do Tronco flui mais livremente, tendo como resultado a produção de mais frutos. A prova mais segura de que estamos em Cristo é que permanecemos em Cristo; e a prova mais segura que permanecemos em Cristo é que produzimos frutos na vida e serviço – o próprio caráter e caminhos de Cristo brotando em nós. Sem Ele nada podemos fazer. Permanecendo n’Ele há muito fruto; somos trazidos à comunhão com Sua mente de modo que pedimos com liberdade e temos nossos desejos concedidos, o Pai é glorificado e nosso discipulado é provado genuíno além de qualquer dúvida.
É um grande privilégio, bem como uma grande responsabilidade, ser deixado na Terra para dar frutos; É até mesmo um grande privilégio conhecer a nós mesmos como objetos do Amor divino. O amor de Jesus repousou sobre esses discípulos – e sobre nós também – assim como o amor do Pai repousou sobre Seu próprio Filho. Devemos permanecer no conhecimento, na consciência e no desfrute do Seu amor. Essa permanência é mantida pela obediência aos Seus mandamentos. Acaso não sabemos muito bem que no momento em que desobedecemos a Sua claramente expressa palavra, nossa consciência nos atinge, e perdemos a comunhão com Sua mente e deixamos de desfrutar o Seu amor? Andando em obediência, permanecemos no Seu amor, entramos em Seu gozo e o nosso próprio gozo é completo.
O versículo 12 está evidentemente relacionado com o versículo 10 de uma maneira muito íntima. Jesus falou de guardar Seus mandamentos de maneira geral, mas havia um mandamento que Ele já havia anunciado de maneira especial (Jo 13:34), e Ele retorna a ele novamente. O amor deve fluir entre os discípulos segundo o caráter de Seu perfeito amor para com eles. O amor que brota da possessão da natureza divina deve circular entre a família divina. A carne está em cada um e as diversidades entre nós são inumeráveis; Daí as possibilidades de confrontos e preconceitos são infinitas. Seu mandamento é que o amor da natureza divina triunfe sobre os antagonismos de nossa natureza carnal. Como obedecemos a esse mandamento? Nosso fracasso aqui explica a pequena medida em que permanecemos em Seu amor e temos Seu gozo permanecendo em nós. Significa também discipulado pobre e falta de glória ao Pai.
O amor humano tem seu limite, como indica o versículo 13; mas o Senhor ensina Seus discípulos a considerarem uns aos outros como amigos, porque cada um e todos eles são Seus amigos, marcados que são pela obediência aos Seus mandamentos. Ele estava realmente saindo para dar a Sua vida por eles, mas n’Ele foi encontrado um amor que excedeu tudo o que era conhecido entre os homens. Seu amor, e não o mero amor humano, deveria estampar seu caráter no amor deles de uns pelos outros.
Desde o primeiro momento do apego deles a Si mesmo, os discípulos haviam sido Seus servos, mas o Senhor agora indica que, daí em diante, iria tratá-los como se estivessem em uma base de amizade mais elevada. Essa amizade era uma coisa real, na medida em que Ele havia feito saber a todos que Ele tinha ouvido falar do Pai, como Revelador do amor e dos desígnios do Pai. Ao dizer isso, cremos que o Senhor também tinha em vista a vinda do Consolador, que lhes daria a capacidade de discernir essas coisas, como Ele já lhes havia dito. Este lugar privilegiado está aberto hoje a todos os crentes no mesmo terreno simples – amor e obediência. Por isso, temos o apóstolo João usando o termo no último versículo de sua terceira epístola. Quando o primeiro século chegou ao fim, a predição de Paulo de homens que diziam coisas pervertidas “para atraírem os discípulos após si” (Atos 20:30) estava sendo cumprida, e Diótrefes era um exemplo de tais homens. No entanto, foram encontrados santos marcados pelo amor e pela obediência, brilhando em contraste com Diótrefes e reconhecidos como “amigos”. Alguns estavam com João, juntando-se à saudação: alguns com Gaio, para serem saudados pelo nome.
Embora Jesus desse a Seus discípulos um lugar tão exaltado, Ele não deixou de ser absolutamente preeminente entre eles. Eles eram amigos, mas totalmente por Sua escolha e não pela deles, e, portanto, Seus direitos soberanos permaneceram inalterados. Eles foram escolhidos como amigos e nomeados para dar frutos de uma espécie que deveriam permanecer, em contraste com o mundo transitório em que se encontravam. Então, como amigos e frutíferos, outro resultado feliz se segue. Eles teriam acesso ao Pai em nome do Filho com a certeza de uma resposta favorável. Pode-se pensar que “tudo quanto pedirdes ... em Meu nome” cobre uma gama muito ampla. Assim é, mas devemos lembrar que “amigos” estão em vista, àqueles a quem foram reveladas todas as coisas do Pai. Aquelas coisas que têm a ver com o Nome e a glória do Filho, e por isso é assumido que, identificado de coração com Ele, todo pedido estará em linha com o propósito do Pai e, portanto, estará certo de uma resposta.
Como um lembrete de quão intimamente conectado com essas coisas é o amor entre os discípulos, no versículo 17 o Senhor repete Seu mandamento que amem uns aos outros. O Senhor previu quão grande seria a necessidade desta palavra na história de Seu povo, então profere este mandamento não menos que três vezes nestas palavras finais antes que sofresse.
O mandamento de nosso Senhor, que o amor seja manifestado como o vínculo entre Seus discípulos, ganha força com o fato do ódio do mundo. Amor circulando por dentro e ódio pressionando por fora: esta é a situação contemplada como resultado de Sua rejeição e morte. Levemos isso em consideração, pois por todos os séculos, a tendência tem sido inverter a situação; e como o coração dos crentes se desgarra ao amar o mundo afora e cortejar seus favores, assim a frieza, a desintegração e até mesmo com o ódio acham um lugar adentro.
Tanto o amor como o ódio provém da relação íntima que existe entre os discípulos e o Seu Senhor. Já vimos isso quanto ao amor e agora vemos isso quanto ao ódio. O mundo odiava a Cristo antes de odiá-los, e os odiava porque haviam sido escolhidos para fora do mundo e, portanto, não eram dele. No momento em que o Senhor falou, o ódio só tinha sido manifestado pelos judeus a quem Ele havia Se apresentado, mas como já vimos, Ele é visto como Rejeitado desde o início deste evangelho, e o judeu é visto como tendo consequentemente perdido seu lugar de distinção nacional. Um Nicodemos com todas as suas vantagens precisa nascer de novo tanto quanto o degradado gentio; e, de acordo com isso, aqui os judeus são como o mundo – as distinções anteriores são varridas na presença do Cristo rejeitado.
Além disso, o ódio gera perseguição, e assim isso é previsto no versículo 20. Os servos devem esperar que o tratamento seja o mesmo dado ao seu Mestre, e tudo tem que ser atribuído à ignorância do mundo quanto a Deus, e o fato de que eles O odiaram quando eles O viram revelado perfeitamente em Cristo. Essa revelação trouxe todas as coisas para uma questão clara. O Senhor fala de Suas palavras no versículo 22 e de Suas obras no versículo 24; ambas combinadas para trazer o pecado deles à luz de uma maneira que estava além de qualquer dúvida e desculpa. Ao ver o Filho viram o Pai: odiando o Filho, odiaram o Pai, e tudo foi sem motivo, como a Escritura havia dito.
Restava, no entanto, mais um testemunho, o do Consolador. Enviado pelo glorificado Jesus, e também procedendo do Pai, Ele completaria o testemunho como o Espírito da Verdade. O Filho encarnado na Terra havia revelado o Pai e Seu testemunho havia sido recusado. No entanto, o testemunho ainda seria mantido pelo Consolador, pois procedendo do Pai Ele agora testificaria do Filho elevado às alturas e assim manteria a revelação que Ele havia feito. Eles poderiam expulsar o Filho: eles o fizeram por meio da cruz. Mas deveria vir Um que eles não poderiam expulsar dessa maneira, e assim um testemunho permanente seria assegurado. O testemunho do Espírito é o último a ser prestado. Daí vem a excessiva gravidade do pecado contra o Espírito Santo ou de ultrajar o Espírito da graça.
O versículo 27 fala do testemunho a ser prestado pelos apóstolos e o diferencia do testemunho do Consolador. Eles testemunharam de tudo o que viram e ouviram “desde o princípio”, como vemos na introdução da primeira epístola de João; em que o peso e valor deste testemunho nos é revelado. Eles também foram as testemunhas designadas de Sua ressurreição. O testemunho deles dos grandes fatos e realidades em que tudo se baseia é da maior importância, contudo algo mais era necessário, e foi suprido pelo novo testemunho do Espírito de Verdade, que temos registrado em Atos. Isso foi especialmente prestado por meio de Estevão, primeiramente, e depois por meio do arquiperseguidor convertido Saulo de Tarso, que se tornou o apóstolo Paulo. Podemos expressar a diferença dizendo que o principal testemunho dos doze foi quanto aos grandes fatos relacionados com a vida, morte, ressurreição e ascensão de Cristo: o testemunho do Consolador era relativo ao significado e à aplicação desses fatos; de todo o propósito de Deus estabelecido neles.

Nenhum comentário:

Postar um comentário