quarta-feira, 28 de agosto de 2019

JOÃO 7

JOÃO 7

Aqui encontramos os judeus de Jerusalém adotando uma atitude de hostilidade homicida, e então Seus irmãos segundo a carne são vistos em um estado de espírito cético[1]. Eles realmente ainda não criam n’Ele, não entendiam seus métodos nem porque evitava Sua publicidade ostensiva. Eles desejavam que Ele exibisse Seus poderes na capital de uma maneira a atrair o mundo para Si mesmo. O Senhor recusou o conselho deles. O mundo não poderia odiá-los, pois eles ainda não estavam de forma alguma separados do mundo. Odiavam a Ele porque desde o início estava essencialmente separado do mundo e testemunhou contra as suas más obras.
Além disso, Ele só agia de acordo com a vontade do Pai e, portanto, a Sua hora ainda não havia chegado. Eles agiam de acordo com seus próprios pensamentos e, portanto, qualquer tempo era o tempo deles, de acordo com o espírito do mundo. Se lermos 1 João 3:12-13, vemos que a situação na qual o Senhor foi encontrado foi tipificada pela de Abel. Suas obras justas, em nome de Seu Pai, testificavam contra as más obras dos judeus, e eles estavam planejando Sua morte, e a iriam cumprir quando Sua hora houvesse chegado. No momento apropriado, Ele subiu à festa dos Tabernáculos, enquanto muitos O procuravam e outros discutiam sobre Ele em particular. Isso nos mostra que a massa do povo, embora não identificada com os líderes que queriam matá-Lo, era também indiferente. Eles estavam cheios de curiosidade e perguntas, e discutiram suas opiniões variadas, mas eles não foram suficientemente movidos para chegar a uma decisão. É como a situação hoje! Alguns se opunham mortalmente, alguns falsos discípulos céticos estavam preparados para trair, as massas eram indiferentes, mas alguns, como Pedro e os dez, descobrindo o Senhor da vida, que não tem rival.
No meio da festa, Jesus apareceu e ensinou. Imediatamente o poder de Suas palavras foi sentido e o questionamento é levantado. Ele não havia passado pelas escolas dos homens, mas mesmo assim ensinava! Como era isso? Ele respondeu à pergunta deles dizendo que Seu ensinamento procedia daqu’Ele que O enviou. Ele tinha vindo para proferir Suas palavras e estava fazendo isso com perfeição. Qualquer dificuldade que seus questionadores sentiam provinha da própria atitude deles. Se ao menos eles tivessem um desejo real de fazer a vontade de Deus, teriam reconhecido que Seu ensino era de Deus. Se desejarmos fazer a vontade de Deus, seremos necessariamente marcados pela sinceridade e pela sujeição, e nossas convicções se tornam claras e corretas. Sombras de dúvidas encobrem a mente daqueles que são meramente superficiais ou curiosos.
Jesus estava de fato falando não de Si mesmo, mas de Deus, e assim Sua verdade e justiça eram manifestas. Ele veio para buscar a glória de Deus, em vez de buscar a Sua própria, falando de Si mesmo. Se tinha sido injustiça para Ele ter buscado a Sua própria glória, embora toda a glória fosse justamente Sua, quanto mais injusto é para qualquer um de nós, que O servimos, buscar a nossa própria glória, visto que com razão não temos glória alguma. Um pensamento muito penetrante e convincente para todos nós! O padrão que o Senhor estabeleceu é o teste para nós.
Para o povo, no entanto, Moisés foi o teste, e julgado por isso, todos eram culpados. Jesus sabia que eles procuravam matá-Lo, e aqui estava uma violação mais flagrante da lei de Moisés. A multidão repudiou o que Ele disse, e é possível que ignorassem os artifícios de seus líderes; mas eles mostraram sua animosidade pela terrível acusação de que Ele tinha um demônio. Jesus respondeu referindo-Se ao milagre de João 5, realizado em Sua visita anterior a Jerusalém, e mostrando-lhes quão injustos e superficiais eram seus julgamentos por causa de suas práticas em relação à circuncisão. Outros intervieram neste ponto e, por suas observações, confirmaram a afirmação do Senhor sobre a intenção homicida deles e derrubaram o repúdio do povo quanto a essa intenção. No entanto, eles não acreditavam n’Ele; eles tropeçaram imaginando que conheciam Sua origem humana. Ainda assim, a realidade das coisas ficou clara por esses homens em consequência da contradição mútua deles.
Conhecendo suas palavras, Jesus os apanhou em Seu ensino no templo, mostrando que, embora O conhecessem e soubessem que ele havia vindo da carpintaria em Nazaré, não conheciam aqu’Ele que O enviara. Eles tinham algum conhecimento quanto ao lado humano, mas quanto ao lado divino, eles eram totalmente cegos. No entanto, houve aqueles impressionados com Seus milagres e inclinados a acreditar que Ele poderia ser o Messias. Os fariseus e principais sacerdotes permaneciam em implacável hostilidade e enviaram alguns para prendê-Lo, mas a Sua hora ainda não havia chegado. Eles não tinham poder real contra Ele, e os versículos 33 e 34 mostram isso. Quando a Sua hora chegasse, muito em breve, Ele iria àqu’Ele que O enviara e passaria por uma região em que jamais entrariam – uma região em que Ele sempre habitou. Ele falou assim de Sua morte e ressurreição de um ponto de vista muito exaltado. Os versículos 35 e 36 nos revelam, mais uma vez, a total incapacidade deles. Eles não tinham a menor ideia do significado de Suas palavras.
No oitavo dia da festa dos Tabernáculos deveria haver “santa convocação”, de acordo com Levítico 23. Naquele dia, quando a alegria do povo deveria atingir seu clímax, Jesus fez Seu segundo grande pronunciamento sobre os rios de “água viva”. Ele sabia que nenhum desses festivais judaicos saciava a sede dos homens, e que havia alguns que estavam conscientes disso. Então, Ele os convidou para virem a Ele e beberem, porque pela fé em Si mesmo o Espírito estava prestes a ser ministrado. Ele havia falado à mulher de Samaria da habitação do Espírito como uma fonte; agora Ele fala daqu’Ele mesmo Espírito correndo como um rio. Desde as partes internas do crente, esses rios devem fluir. O significado da figura parece ser que o Espírito deve ser não apenas recebido, mas espiritualmente assimilado, se o fluxo ocorrer. Os rios fluirão do seu “ventre” e não de sua cabeça.
Isso deve ocorrer “como diz a Escritura”, isto é, não é a citação de uma declaração escrita, mas algo indicado de uma maneira mais geral. Por exemplo, Ezequiel 47:1-9, previu que as águas deveriam fluir do templo milenar e que suas águas deveriam ser vivas, uma vez que “tudo viverá por onde quer que passe este rio” (ARA). Além disso, “o nome da cidade desde aquele dia será: o Senhor está ali” (Ez 48:35). As águas vivas irão sinalizar o fato de que o Senhor vivo está no meio deles. Mas o Espírito deveria ser dado quando Jesus fosse glorificado no alto, muito antes do Dia Milenar ser alcançado, e Ele sinaliza Sua presença e Sua habitação nos crentes pelo transbordar das águas vivas de um modo espiritual e não material. A Escritura, assim, tem falado dessas coisas. Vemos repetidamente confirmado o fato de que o que Israel desfrutará de maneira mais material naquela época é para ser conhecido pelo crente de maneira espiritual nesta presente época.
O versículo 39 é importante para definir claramente a relação entre a glorificação de Jesus e o derramamento do Espírito. Por esse ato a Igreja deveria ser formada e o corpo unido à sua Cabeça. Jesus estava aqui encarnado, mas antes de Ele assumir essa liderança íntima, como Senhor e Cristo, quatro passos adicionais foram necessários – morte, ressurreição, ascensão, glorificação. Então o Espírito Santo foi derramado e as águas vivas começaram a fluir em Jerusalém e em outros lugares. Olhando para o futuro, o Senhor Jesus prometeu isso e não deu nenhuma qualificação a “quem que crê em Mim”. Não foi somente para a era apostólica, mas para nós também. Por que os rios são tão pouco vistos? Não é porque nossas partes internas foram entupidas com outras coisas e estão pouco abertas às operações de Deus?
Os versículos 40-44 nos mostram as pessoas ainda hesitantes e confusas. Alguns expressaram uma opinião e outra. Alguns O teriam entendido, mas ninguém o fez. Parecia que ia terminar em discussões fúteis; mas revelou a presença de uma profunda fenda de divisão. Há muitos modos de ser contra Cristo e somente um modo de ser a favor d’Ele – a maneira que vimos Pedro tomar no final de João 6. A fenda, como um grande desfiladeiro do rio Colorado nos Estados Unidos, existe hoje, e todas as outras rachaduras entre os homens são apenas valas rasas comparadas com isso. Ainda existe uma dissensão entre as pessoas por causa d’Ele.
No final do sexto capítulo, tivemos o tributo de Pedro ao poder sobrenatural das palavras do Senhor; elas eram “palavras da vida eterna”. Agora percebemos que o mesmo poder foi sentido por homens que estavam do lado oposto da profunda fragmentação que atravessava a nação. Os líderes religiosos enviaram homens para prendê-Lo, mas voltaram sem Ele. A única explicação que deram de seu fracasso em tocá-Lo foi: “Nunca homem algum falou assim como este Homem”. Eles não entenderam o que Ele disse, mas sentiram que nenhum homem comum jamais falou como Ele; Suas palavras O colocaram em uma categoria completamente diferente. Eles podem ser ignorantes, mas suas sensibilidades não estavam totalmente mortas.
Seus líderes, que os haviam enviado, não tinham apenas falta de sensibilidade, mas também de escrúpulos. Eles não tinham falta de um imenso conceito de si mesmos; tanto que estavam certos de que sua própria rejeição de Jesus seria incontestável e tão definitiva que todos deveriam aceitá-la. Se a multidão, ou qualquer um dela, não a aceitasse, isso apenas mostrava que a multidão era ignorante e maldita. Então esses falsos pastores apenas amaldiçoaram as ovelhas, e a deixaram assim. No entanto, sua própria ignorância começou a aparecer, pois o efeito da presunçosa pergunta deles sobre se algum dos principais ou dos fariseus havia crido n’Ele, foi arruinado por Nicodemos, que era tanto um principal como um fariseu. Embora ainda não estivesse preparado para se mostrar como um crente definitivo, ele revelou pela sua pergunta que ele não se conformava com a incredulidade deles. Além disso, o desprezo deles pela Galileia só revelou a ignorância deles de onde Cristo tinha vindo.
A cena apresentada a nós, nestes versículos finais, mostra que existe uma semelhança surpreendente entre os religiosos modernistas de hoje, e esses homens. É verdade que a Palavra de Deus escrita está mais em questão agora do que a Palavra Viva como então, mas existe exatamente a mesma presunçosa afirmação do lugar supremo da habilidade e conhecimento humanos. A frase moderna é: “Todos os estudiosos concordam...” concordam em negar ou mesmo ridicularizar a Palavra de Deus. Mas agora, como naquele momento, todos os eruditos NÃO estão de acordo, e os dissidentes não são apenas uma unidade como Nicodemos no Sinédrio, como também a fé desses dissidentes em Cristo e Sua Palavra é muito mais clara e mais definida que a de Nicodemos. Além disso, como os antigos religiosos, os espécimes modernos são tão errados em seus fatos básicos. Cristo não era “da Galileia” como deveriam saber; mas eles não se preocuparam em olhar por baixo das aparências superficiais. A descrença moderna é rica em especulações, suposições, fantasias e, tristemente, falida quanto a fatos sólidos.


[1] N. do T.: Ceticismo é uma corrente de pensamento segundo a qual o espírito humano não pode ter certeza absoluta de alcançar a verdade e deve abster-se de julgar. Diz, também, que toda afirmação deve ser submetida a uma constante dúvida.

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