quarta-feira, 24 de julho de 2019

JOÃO 2


JOÃO 2

Este capítulo começa: “E ao terceiro dia”. Se voltarmos no tempo, encontramos que o segundo dia foi aquele em que Filipe foi encontrado e o primeiro foi o que André e seu companheiro encontraram seu Centro em Jesus. Vendo essas coisas em um sentido figurativo ou alegórico, podemos dizer que o primeiro dia é aquele em que a Igreja é reunida a Cristo; o segundo, no qual Ele é reconhecido como Filho de Deus e Rei de Israel pelo remanescente piedoso em Israel; o terceiro é o da bênção e gozo milenares como o fruto do Filho do Homem sendo colocado sobre todas as coisas.
Na ocasião do casamento em Caná, nenhuma glória externa marcou a presença de Jesus. Seus discípulos estavam lá e Sua mãe também, mas Ele logo mostrou, pela resposta que deu à Sua mãe, que a iniciativa era Sua e não dela; e também que Sua hora ainda não havia chegado – nem a hora de Seu sofrimento, nem a hora de Sua glória, quando “todas as coisas” estarão à Sua disposição. Contudo, Ele rapidamente manifestou Sua glória mostrando que a água estava à Sua disposição e que poderia fazer dela aquilo que desejasse. Ele transformou a água da purificação no vinho do regozijo. Este foi o começo de Seus milagres ou sinais, e como um sinal, Ele contemplava para o resultado final de Sua obra. Não pode haver uma alegria duradoura a não ser sob a base de uma purificação que Ele realiza, e a alegria que surgirá quando finalmente chegar o dia do matrimônio a um Israel purificado; isso será o melhor de tudo. O “bom vinho” é mantido até aquele dia. Este sinal, demonstrando Sua glória, confirmou a fé de Seus discípulos e pode confirmar a nossa.
Depois de um curto período ainda na Galileia, subiu à Jerusalém para a Páscoa. Todas essas coisas aconteceram antes de João ser lançado na prisão e, portanto, antes de Ele entrar mais publicamente no Seu ministério, conforme registrado pelos outros evangelistas. A cena no templo, registrada aqui, aconteceu logo no começo de Seu ministério. Ele estava no centro dos acontecimentos quando chegou ao templo e aqui, no próprio centro, a necessidade de uma obra de purificação era mais fortemente manifesta. A casa de Deus, Seu Pai, fora transformada em uma casa de venda – um lugar de comércio e lucro mundano.
Isso ilustra como as bondosas provisões da lei poderiam ser e foram corrompidas para servir aos fins ambiciosos do homem. Havia instrução sobre essa questão em Deuteronômio 14:22-26, e eles poderiam alegar que estavam apenas fazendo o que a lei permitia. A lei lhes dizia que trouxessem seu dinheiro e comprassem o que precisassem, mas não apoiava as práticas ambiciosas que haviam introduzido, transformando a casa de Deus em um centro lucrativo. A mesma coisa em princípio pode ser vista em nossos dias; tais como santuários católicos com lojas vinculadas onde os devotos compram velas e outros pertences a altos preços!
O Senhor ainda não havia rejeitado o templo. Ele o tratou como a casa de Deus, e Ele estava cheio de zelo por ela. Ninguém poderia resistir a Ele e a Seu “chicote de pequenas cordas” (KJV), e os malfeitores tiveram que ir por um momento. Os judeus, no entanto, desafiaram o que Ele fez e exigiram um sinal, como se a irresistível autoridade de Sua ação não fosse sinal suficiente. Em resposta, Ele lhes deu o grande sinal de Sua própria morte e ressurreição, expressada somente em linguagem simbólica. O fato era que o templo, como morada de Deus, estava prestes a ser suplantado por Ele mesmo. Seu corpo era um “templo” muito mais maravilhoso do que aquele que esteve no monte Moriá. O Verbo habitou entre nós em carne e, portanto, “Deus estava em Cristo” de um modo muito mais profundo e íntimo. A plenitude da Divindade estava habitando n’Ele. O Templo tinha servido à uma certa função em Israel, mas agora Ele estava cumprindo essa função de uma maneira totalmente nova.
Desde o início deste evangelho Ele é visto como rejeitado. Então, aqui, Jesus considera sua animosidade mortal como certa. Suas palavras são uma predição de que eles dirigiriam suas mãos para dar-Lhe a morte; derrubando, até onde podiam fazê-lo, o templo do Seu corpo. Eles o derrubariam e em três dias Ele o levantaria. Note como diz que Ele faria isso. É igualmente verdade, é claro, que Deus O ressuscitou dos mortos, mas em João 10 Ele fala novamente de Sua ressurreição como um ato Seu próprio. Isto está de acordo com o evangelho que O apresenta como o Verbo que era Deus e Se fez carne. De todos os sinais que Ele mostrou, Sua própria ressurreição foi o maior.
No momento, ninguém, nem mesmo os Seus discípulos, O entendiam. Esta é outra característica do evangelho de João. Ele é continuamente mal entendido, tanto por amigos quanto por inimigos. Foi somente após a Sua ressurreição e o consequente dom do Espirito que o real significado dessas coisas se tornou evidente aos discípulos. Mas isso não é surpreendente. Se o Verbo Se faz carne, Ele certamente nos falará em linguagem humana: mas Ele também falará das coisas elevadas que Ele conhece como estando no seio do Pai. Por isso, as Suas declarações são destinadas a ter neles uma profundidade totalmente além de qualquer linha de prumo que o homem possui – profundezas que somente o Espírito Santo pode revelar.
Quando o Senhor falou figurativamente de Sua ressurreição, Suas palavras não foram entendidas por ninguém, e as obras de poder que Ele fez tiveram seu efeito em muitas mentes. Os versículos que encerram o segundo capítulo mostram que os milagres podem produzir uma “crença” de certo tipo. Muitos em Jerusalém naquela época teriam subscrito o ditado de que “ver é crer”; todavia, a crença que provém de visão de fatos, que não podem ser negados, não é a fé que salva dada por Deus. É meramente a convicção intelectual que, quando testada, colapsa facilmente, como vemos no versículo 66 do capítulo 6.
No momento, as coisas em Jerusalém deviam parecer bastante promissoras, mas Jesus viu o que estava abaixo da superfície e o evangelista aproveita a oportunidade para nos dizer isso. Ele faz a dupla declaração de que Jesus “a todos conhecia” e que “bem sabia o que havia no homem”. Ele faz novamente uma afirmação muito semelhante em João 6:64; mas isto em nosso capítulo é o primeiro de uma série de observações semelhantes que nos revelam a onisciência de nosso Senhor, e estão muito de acordo com o caráter deste evangelho. Conhecendo estes homens, Jesus não confiou neles. A palavra traduzida como confiou” é a mesma que a traduzida como creram” no versículo anterior, que nos ajuda a ver que a verdadeira fé não é uma mera convicção mental, mas o comprometimento de si mesmo em simples confiança para com aqu’Ele em Quem se crê.

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