sábado, 31 de agosto de 2019

JOÃO 11

JOÃO 11


Os dois versículos com os quais este capítulo inicia indicam que este evangelho foi escrito quando os outros evangelhos já eram bem conhecidos. Ao nomear Betânia como a cidade de Marta e Maria, supõe-se que os leitores estariam mais familiarizados com as mulheres do que com a aldeia. Novamente, no versículo 2, Maria é identificada por sua ação em ungir o Senhor, embora João não nos fale sobre isso até que o próximo capítulo seja alcançado: ele evidentemente sabia que poderia identificá-la assim com segurança, já que a história era tão amplamente conhecida.
A breve mensagem enviada pelas irmãs indica muito admiravelmente a intimidade na qual o Senhor introduziu Seus amigos nos dias de Sua carne. Era uma intimidade com reverência, na qual Ele sempre ocupou o lugar supremo, pois eles não se dirigiram a Ele, com indevida familiaridade chamando-O “Jesus”, mas “Senhor”. No entanto, eles podiam com toda a confiança falar do irmão delas como “aquele que Tu amas”. Ele havia tornado a família de Betânia completamente consciente do Seu amor, para que eles pudessem contar com esse amor com confiança. Que a confiança deles não estava fora de lugar é confirmada pelo comentário do evangelista no versículo 5. Jesus realmente os amava. Ele amou cada um individualmente; e Marta, a quem poderíamos considerar que Ele tivesse menos motivos para amar, é colocada em primeiro lugar na lista. Lázaro, a quem mais manifestamente Ele amou, como mostrado neste capítulo, é colocado por último. Maria, a quem poderíamos ter colocado em primeiro lugar, seu nome sequer é mencionado; ela é apenas “sua irmã”. Aprendamos que o amor de Cristo é colocado sobre um fundamento muito mais profundo do que as variadas características dos santos. Procedendo do que Ele é em Si mesmo, é uma coisa maravilhosamente imparcial.
Apesar disso, o apelo das irmãs não encontrou uma resposta imediata. Houve um atraso deliberado, que deu tempo para a doença terminar em morte; e a morte teve tempo para produzir corrupção. Por que isso? Aqui respondemos, definitivamente, a esta questão que tão constantemente se levanta no coração dos santos. A morte não era a verdadeira finalidade deste incidente, mas a manifestação da glória de Deus e a glorificação do Filho de Deus. Foi para o bem dos discípulos, como mostra o versículo 15. Também deveria ser uma grande bênção para as irmãs que sofriam, conforme indicado pelas palavras do Senhor registradas no versículo 40. Assim, o que parecia tão estranho e inexplicável agiu para glória de Deus e para o bem dos homens. Houve uma resposta do tipo mais excelente na aparente falta de resposta da parte do Senhor.
Quando o Senhor dirigiu novamente Seus passos para a Judeia, Seus discípulos temeram, pois eles eram como homens andando no escuro, e não tinham luz em si mesmos. Mas Ele, por outro lado, era como alguém andando de dia, porque Ele estava na luz – não neste mundo na verdade, mas naquele outro mundo onde a vontade e a maneira do Pai são tudo. Por isso, Ele nunca tropeçou e agora subiu a Betânia para fazer a vontade de Deus. Os discípulos O seguiram pensando na morte, como Tomé indicou; mas Ele subiu às cenas de morte no poder da ressurreição.
A ação das duas irmãs, quando Jesus Se aproximou, foi característica. Marta, a mulher de ação, saiu ao encontro d’Ele. Maria, a mulher de meditação e afinidade, ainda estava sentada na casa, aguardando Seu chamado. Ambas, no entanto, O saudaram com as mesmas palavras quando O viram. Marta tinha fé genuína. Ela cria em Seu poder como Intercessor junto a Deus, e no poder de Deus para ser exercido em ressurreição no último dia. Sem dúvida ela era impetuosa, mas sua impetuosidade provocou um dos maiores pronunciamentos registrados. O Jeová de antigamente chamara a Si mesmo de “EU SOU”. Agora o Verbo foi feito carne, e Ele também é “EU SOU”, mas Ele completa isso em detalhes. Aqui temos, “EU SOU a ressurreição e a vida”. Como o ponto aqui é o que Ele é em relação aos homens, a ressurreição vem primeiro. A morte está sobre Adão e sua raça, portanto a vida para os homens só pode estar no poder da ressurreição.
O fato em si é duplo, e segue-se uma aplicação dupla ao crente. Se ele tiver morrido, ele certamente viverá, pois sua fé repousa naqu’Ele que é a ressurreição e, consequentemente, naqu’Ele que vivifica a vida além da morte. Mas então Jesus também é a vida, e Seu poder vivificador alcança os homens para que eles vivam “na fé do Filho de Deus” (Gl 2:20) – ou, como o Senhor coloca, aquele que “vive e crê em Mim” – então tais nunca morrerão; isto é, nunca provarão a morte em sua forma plena e própria. A casa terrena deste tabernáculo pode ser desfeita, mas a morte não é para nós; é mais um adormecimento. Toda a declaração era de uma forma um tanto enigmática e totalmente além de qualquer luz que até então havia sido concedida aos homens. Ele ainda não estava revelando a verdade quanto à Sua vinda novamente, à qual Ele Se refere quando chegamos ao início de João 14, e que é expandida para nós em 1 Tessalonicenses 4:13-18. Mas, embora não seja a interpretação primária de Suas palavras, podemos ver, quando uma vez revelada a verdade de Sua vinda, uma notável aplicação secundária delas. Em Sua vinda para os Seus santos, haverá de fato a grande demonstração pública da verdade de Suas palavras: “Eu Sou a ressurreição e a vida”.
Quando o Senhor desafiou Marta quanto à sua crença, ela imediatamente mostrou que tudo era um enigma para ela. Provavelmente ela viu a ressurreição no último dia como sendo uma restauração da vida neste mundo, que ocorreria com a massa dos judeus. Então, ao responder, ela se apoiou, muito sabiamente, sobre o que ela cria com certeza – que Ele era o Cristo, o Filho de Deus que tinha sido anunciado como vindo ao mundo. Ela já havia chegado à fé a qual este evangelho nos conduz e, portanto, possuía “vida em Seu nome”. Mas mentalmente fora de sua profundidade quanto a outros assuntos, ela começou a chamar sua irmã secretamente para ir ao Mestre.
Com Maria, existia um laço especial de afinidade. Não lemos sobre Marta caindo aos pés de Jesus, nem sobre suas lágrimas. A tristeza da morte pesava sobre o espírito de Maria muito acentuadamente, como de fato estava sobre o Seu. Embora Ele estivesse prestes a levantar esse peso por um tempo neste caso particular, sentiu esse peso em uma medida infinitamente profunda, levando-O a gemer em espírito e até mesmo a derramar lágrimas. Ele chorou, não por Lázaro, pois sabia que em poucos minutos Ele o chamaria novamente à vida, mas em compaixão com as irmãs e sentindo em Seu espírito a desolação da morte trazida pelo pecado. A palavra usada aqui é aquela para o derramamento de lágrimas silenciosas, não a palavra para lamentações audíveis, que é usada em Lucas 19:41. Mas aquelas lágrimas silenciosas de Jesus tem movido o coração dos santos entristecidos por quase dois mil anos.
A morte gerou um gemido no espírito de Jesus, e novamente (v. 38) encontramos o sepulcro fazendo o mesmo. Mas agora Ele estava prestes a trazer o poder de Sua palavra em ação e manifestação. O versículo 39 começa: “disse Jesus”. Há uma sequência de 5 versículos impressionantes neste capítulo que serviriam para resumir toda a história. Eles ocorrem nos versículos 4, 5, 17, 35, 39 – “Jesus ouviu”, “Jesus amou”, “Jesus chegou”, “Jesus chorou”, “Jesus disse”. O santo entristecido de hoje tem que esperar até que a quinta ocorrência seja alcançada para que constate aquele “clamor em alta voz” que levantará os mortos e transformará os vivos, e tomará todos para estarem com Ele. Os outros quatro são válidos e eficazes para nós em todos os momentos.
À palavra do Senhor, os homens podiam rolar a pedra da entrada da caverna. Isso eles o fizeram apesar do protesto bastante inoportuno de Marta, mas o poder deles cessou naquele momento. A manifestação da glória de Deus, que Marta deveria ver se cresse, era obra exclusiva Sua. A vivificação e a ressurreição são obras inteiramente Suas, embora os homens possam ser usados para remover obstruções. No entanto, o poder que trouxe Lázaro de volta à vida só foi exercido em dependência do Pai. O testemunho completo foi prestado na presença da multidão ao fato de que aqui estava o Filho de Deus em poder e também ao fato de que Ele estava aqui em nome do Pai e em plena dependência d’Ele.
Ele proferiu apenas quatro palavras e o poderoso sinal veio a acontecer. A morte e a corrupção desapareceram e Lázaro, ainda ligado com faixas, saiu. Agora, novamente, a instrumentalidade humana entrou em cena e Lázaro foi libertado de suas amarras; assim como hoje os servos de Deus podem pregar a palavra a ponto de remover obstruções espirituais e libertar almas da servidão, enquanto a obra de dar vida permanece completamente nas mãos do Filho de Deus. Neste grande sinal, o sexto que João registra, a glória de Deus se manifestou, pois a concessão da vida é Sua gloriosa prerrogativa. O homem brutal pode matar com muita facilidade: só Deus pode “matar e vivificar” (2 Re 5:7 – AIBB; 1 Sm 2:6;). Nisso, também, o Filho de Deus havia sido glorificado, pois Sua unidade com o Pai, no exercício desse poder, havia sido demonstrada.
Ocorrendo tão perto de Jerusalém, esse sinal teve um efeito profundo. Isso levou muitos à fé, e agitou os principais sacerdotes e fariseus a uma determinação mais feroz de matá-Lo. Eles tinham que admitir que Ele tinha feito muitos sinais, mas só consideraram o efeito que essas coisas poderiam ter no próprio lugar deles na presença dos romanos. Deus estava completamente fora dos pensamentos deles. O conselho que eles tiveram deu ocasião para a profecia de Caifás.
Deus pode Se utilizar de um falso profeta como Balaão e forçá-lo a proferir palavras de verdade. Mas aqui estava um homem que, exceto por ser sumo sacerdote naquele ano, não tinha pretensões a nada do tipo; um homem que profetizou sem saber que ele estava profetizando. No que lhe dizia respeito, suas palavras eram sarcásticas, cheias do espírito de um homicida cínico, sem coração e de sangue-frio; todavia, foram usadas pelo Espírito Santo para transmitir o fato de que Jesus estava prestes a morrer por Israel, em um sentido do qual nada sabiam. O versículo 52 nos dá um comentário adicional sobre suas palavras por meio do evangelista. Israel era de fato para ser redimido por Sua morte, mas havia outro propósito para vir à luz em breve. Nascidos de Deus existiam, mas ainda sem qualquer vínculo especial de união. Esse vínculo deveria ser criado como o fruto de Sua morte. Mais luz sobre isso nos alcançará no próximo capítulo.

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