João - Novo Testamento comentado por F. B. Hole
Traduzido, publicado e distribuído por Verdades Vivas - verdadesvivas.com.br
quinta-feira, 21 de novembro de 2019
segunda-feira, 16 de setembro de 2019
JOÃO 21
JOÃO 21
Os versículos finais do
capítulo anterior indicam que a evidência fornecida, mostrando que Jesus é o Cristo,
o Filho de Deus, está completa agora. Isto é, portanto, tido como concedido no capítulo
final, que registra os tratamentos com certos de seus discípulos totalmente não
registrados nos outros evangelhos. Pode ser considerado de duas maneiras: primeiro,
como tendo um significado figurativo ou típico; em segundo lugar, como mostrar Seus
tratamentos graciosos com eles em vista de seu futuro.
O versículo 14 nos dá
a chave para entender seu significado especial do ponto de vista figurativo. Podemos
lembrar de que na abertura deste evangelho o evangelista chama nossa atenção para
certos dias, e no início de João 2 houve uma manifestação da glória de Jesus no
terceiro dia, figura da era milenar. Agora, aqui temos diante de nós o que
é registrado como a terceira manifestação de Jesus ressuscitado dos mortos,
e novamente descobrimos que tem um significado milenar.
A primeira manifestação,
como vimos no último capítulo, foi no próprio dia da ressurreição, e todos os registros
em conexão com ela falavam da porção da Igreja em associação com o Senhor
ressurreto. A segunda, no mesmo capítulo, nos deu o despertar da fé no remanescente
de Israel, quando finalmente eles olharão para aqu’Ele a Quem traspassaram.
Isso foi demonstrado em Tomé. Agora chegamos à terceira, quando a manhã do milênio surgirá e o Senhor será revelado como
o Senhor de todas as circunstâncias e o Provedor de todas as necessidades. Os três
dias apontados em João 1 e João 2, tiveram, em cada caso, o mesmo significado.
O principal objetivo deste
evangelho foi a revelação do Pai na Pessoa do Filho e a certificação para nós de
que Jesus é de fato o Filho de Deus, para que não tenhamos dúvida quanto à revelação,
mas que a luz dela brilhe com resplendor inextinguível em nossa alma. É muito notável,
portanto, que ele inicie e termine com essas figurativas lembranças de distinções
dispensacionais, embora o peso do evangelho seja aquele que permanece eternamente
acima de todas as distinções dispensacionais. Diferenças de dispensação podem impor
diferentes medidas quanto às apreensões dos santos, mas aquilo que deve ser apreendido
é eternamente o mesmo.
João nos deu um relato
da queda de Pedro, mas não disse palavra alguma sobre suas amargas lágrimas imediatamente
depois, como resultado do olhar do Senhor, nem do encontro pessoal com o seu Senhor
ressuscitado na última parte do dia da ressurreição. Abrimos este capítulo para
encontrá-lo retornando para a sua pesca e levando seis dos outros discípulos com
ele. Não foi para esse tipo de pesca que o Senhor o havia originalmente chamado,
e parece que, embora sabendo que o Senhor o havia perdoado, ele estava assumindo
que sua comissão para o serviço deveria cessar. O Pastor ressuscitado, no entanto,
estava prestes a restaurar totalmente alma de Pedro e levar os pés de todos eles
para os caminhos da justiça.
A expedição deles no lago foi um fracasso. O versículo 3 se resume em “noite” e “nada”. Quando a manhã chegou, tudo foi revertido porque Jesus estava
lá – rede cheia, grandes peixes – e nenhuma rede rompida, nenhum barco
afundando, como em Lucas 5. Tampouco havia Pedro caindo para confessar-se um homem
pecador, embora sua triste queda tenha sido tão recente. Em vez disso, atirou-se
ao mar para chegar a Jesus com toda a rapidez possível. Novamente vemos como ele
é preeminente quando a ação do amor está em questão, assim como João mostra
mais proeminentemente o discernimento do amor.
Chegados à praia, os discípulos
se viram interrompidos em sua pesca, embora a captura de peixes fosse tão grande.
O Senhor tinha fogo, peixe e pão prontos para eles; a provisão era toda Sua. Visto
figurativamente, podemos enxergar os discípulos saindo e trazendo sob a direção
do Senhor, uma grande colheita do mar das nações, o que marcará a abertura da era
milenar. Foi certamente preparada, também, como uma lição para Pedro e o restante,
mostrando-lhes que sua volta à ocupação comum era desnecessária, mesmo que especialmente
abençoada por Ele. Sua comida já estava preparada por Sua mão. Os discípulos sabiam
que era o seu Senhor ressuscitado, não pela visão de seus olhos, mas por Suas ações,
que eram únicas.
Então começou o trato
especial do Senhor com Simão Pedro. Sua queda ocorreu quando ele estava se aquecendo
ao fogo do mundo na companhia dos servos do sumo sacerdote, que era totalmente hostil
ao seu Senhor. Ele agora se encontra perto do fogo que tinha sido aceso por seu
Senhor, não apenas aquecido, mas também alimentado por Ele, e na companhia de outros
servos dedicados ao seu Senhor como ele mesmo. Três vezes Pedro tinha sido testado
e cada vez, com ênfase crescente, ele havia negado seu Senhor. Três vezes, nesta
ocasião, o Senhor sondou a consciência e o coração de Pedro, cada vez aumentando
a severidade do teste.
Podemos apreciar mais
plenamente os versículos 15-17 se observarmos que duas palavras diferentes são usadas
para “amor”. A primeira (“ágape”) é aquela que, segundo nos dizem,
não é usada para “amor” além do Novo
Testamento e da versão Septuaginta[1]. O
Espírito de Deus tomou essa palavra e a consagrou para expressar o amor de Deus.
A segunda (“fileo”) é aquela baseada na
palavra amor entre amigos, e significando o amor de sentimentos ou de afeto caloroso;
ou, como foi dito, “indica menos percepção e mais emoção”. Vamos citar a tradução
de Darby, onde a distinção é cuidadosamente observada.
O Senhor dirigiu-Se a
Pedro não pelo novo nome que Ele lhe dera, mas pelo seu antigo nome na natureza,
“Simão, filho de Jonas”, e perguntou-lhe:
“Amas-me mais do que estes?” Isso é exatamente
o que ele alegou de si mesmo ao dizer: “Ainda
que todos se escandalizem, nunca, porém, eu”, como Marcos nos diz. Esta deve
ter sido uma questão muito dolorosa, pois a julgar pelo seu proceder, parecia que
ele era o que menos O amava. O que ele poderia dizer? Apenas isto, “Sim, Senhor, Tu sabes que eu estou apegado
a Ti”. Ele usou a palavra inferior, mostrando que ele já havia decaído em sua
própria estima.
Uma segunda vez, Jesus
fez a pergunta, usando a mesma palavra de antes, mas não fazendo qualquer comparação
entre Pedro e os outros discípulos. Era simplesmente: “Amas-Me?” Era como se Ele tivesse dito: “Você realmente Me ama mesmo?”
Isso penetrou na ferida de uma forma ainda mais profunda. Pedro foi novamente incapaz
de aceitar o desafio e permaneceu com sua própria palavra: “Tu sabes que eu estou apegado a Ti”.
A terceira pergunta era
uma pressão ainda mais profunda, pois, dessa vez, Jesus usou a própria palavra de
Pedro e, perguntou-lhe, “Estás tu apegado
a Mim?” Assim, Ele desafiou o direito de Pedro de ir tão longe a ponto de
afirmar que ele estava apegado a Ele. Isso o cortou até a medula e penetrou até
a profundidade. Ele percebeu que não podia alegar que amava e que sua conduta desmentia
até mesmo uma ligação de amizade. Ele, portanto, lançou-se inteiramente ao seu Onisciente
Senhor, dizendo: “Senhor, Tu sabes todas
as coisas; Tu sabes que eu estou apegado a Ti”. Isso virtualmente reconhecia
que seu apego era de proporções tão tênues e microscópicas que somente a onisciência
Divina poderia percebê-lo. Mas ainda estava lá! Pedro sabia disso e sabia que seu
Senhor conhecia isso.
Em tudo isso, em
muita graça, ainda que com acurada precisão, Pedro estava sendo conduzido ao julgamento
próprio – o julgamento do estado que o levou ao pecado e ao desastre. Uma coisa
é confessar o pecado cometido e outra confessar o estado errado que o levou a isso.
Este é o ponto que é tão instrutivo e salutar para nós. A autoestima com o seu mau
gêmeo, a confiança própria, era a base do mau comportamento e a completa restauração
diante do Senhor não seria aperfeiçoada até que Pedro chegasse a esse ponto. Além
disso, seu pecado havia sido cometido com considerável publicidade, e os outros
discípulos devem ter tido sua confiança nele tristemente abalada. Quão gracioso,
então, da parte do Senhor tratar com Pedro em sua restauração na presença de vários
discípulos.
E isso não foi tudo. Cada
afirmação de Pedro de que ele realmente estava apegado ao Senhor, apesar de sua
covarde negação, foi seguida por uma resposta que indicava que um serviço muito
importante deveria ser confiado a ele. O Senhor usou três expressões diferentes,
que não estão totalmente claras em nossas versões em português: “Alimenta os Meus cordeiros”, “Apascenta as Minhas ovelhas”, “Alimenta as Minhas ovelhas” (todas
conforme JND). O pastoreio de ovelhas envolveria o cuidado para que elas fossem
alimentadas, mas iria além disso e cobriria muitas atividades na forma de supervisão,
liderança e proteção.
É muito evidente que Pedro
foi encarregado de um ministério pastoral, e a maneira pela qual ele incita os outros
a um semelhante cuidado pastoral, nos versículos iniciais de 1 Pedro 5, é muito
impressionante. Em sua epístola ele adverte contra os próprios abusos de tal ministério
que entraram como uma inundação na história da Igreja. Esses abusos alcançam seu
maior desenvolvimento no imponente corpo religioso que reivindica seu pontífice
romano como o sucessor de Pedro; e eles são apenas a consequência da natureza humana
caída, pois coisas exatamente semelhantes aconteceram em Israel, e são condenadas
pelo Senhor por meio da profecia em Ezequiel 34. Hoje o “Óbolo de São Pedro”[2] significa
dinheiro extraído do rebanho
para o apoio do suposto sucessor de Pedro, em vez de algo ministrado para o rebanho. Uma severa perversão e grotesca
imitação, de fato!
Os pastores que serviram
depois da partida de Pedro logo se esqueceram de que os cordeiros e ovelhas pertenciam
ao Senhor. A palavra para Pedro não era “Alimente suas ovelhas”, mas “Minhas ovelhas”, e isso faz toda a diferença.
É notável ainda que o Senhor falou uma vez de pastoreio e duas vezes de
alimentação. É aí que a ênfase está. Pastoreio significa uma certa quantidade de
autoridade no manuseio e direcionamento, e não são poucos os que amam empunhar autoridade,
mesmo na Igreja de Deus. Ser despenseiro de alimento espiritual é outro assunto
e muito mais profundo. Aquele que pode dar alimento espiritual não terá muita dificuldade
em exercer alguma medida de controle espiritual.
Outra coisa que podemos
notar. Quando Pedro foi assim comissionado, ele era um homem subjugado e humilde.
A um tal homem assim, quando totalmente restaurado, o Senhor confiou Seus cordeiros
e ovelhas. Podemos nos lembrar da prescrição apostólica: “se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois
espirituais, encaminhai [restaurai
– TB] o tal com espírito de mansidão;
olhando por [considerando a –
JND] ti mesmo, para que não sejas também
tentado” (Gl 6:1). Supõe-se que um homem espiritual será manso e terá um senso
completo de sua própria suscetibilidade de cair. Aqui Pedro havia caído e, humilhado
agora e restaurado, ele alcançou aquele espírito terno e manso que marca o homem
espiritual. Para os homens desse tipo o Senhor confia Seus cordeiros e ovelhas.
Tendo o Senhor comissionado
outra vez a Pedro e indicado o caráter especial do serviço que ele devia prestar,
agora lhe mostrou que aquilo de que ele havia se gabado de que faria na energia
da juventude, ele realmente faria quando sua energia natural tivesse diminuído.
“Por Ti darei a minha vida”, foram as
palavras de Pedro, mas ele falhou miseravelmente. Seu desejo estava correto, embora
sua confiança própria estivesse errada e tivesse que ser repreendida. Portanto,
seu desejo deve ser cumprido, mas num poder que é além do seu. As palavras do Senhor
no versículo 18 não indicaram apenas que ele deveria glorificar a Deus pela morte
de um mártir, mas também o caráter daquela morte. A alusão foi à crucificação. Ele
deveria seguir o Senhor ao cuidar de Suas ovelhas e, até certo ponto, à maneira
de Sua morte. Que sublime graça foi esta para o discípulo
que falhou! E que instrução para nós! O caso de João Marcos também nos fornece um
exemplo de como aquilo que é iniciado na carne ainda pode ser aperfeiçoado pelo
Espírito: Exatamente o oposto de Gálatas 3:3.
No momento, Pedro desviou
os olhos de seu Mestre e fixou-o em um discípulo, ninguém menos que o escritor deste
evangelho. João era evidentemente um homem mais jovem, mas já estava intimamente
ligado a Pedro em várias ocasiões. Provavelmente era interesse genuíno e não meramente
curiosidade que o fez indagar sobre o futuro dele. A resposta parece ter uma dupla
relevância.
Primeiro, enfatizou a
questão de que para cada discípulo – seja Pedro ou nós mesmos – nosso grande assunto
não é com nossos irmãos, mas com nosso Senhor. O que o Senhor ordenou para João
não dizia respeito a Pedro, mas que seguisse o Senhor por si mesmo. Não há muitos
hoje que apontam para um irmão e dizem: “O que esse homem fará?”, mas há muitos
que dizem: “Veja o que esse homem fez!” Estar preocupado sobre os feitos de outra
pessoa, especialmente se eles não forem muito corretos, é uma coisa banal e fácil,
enquanto estar preocupado consigo mesmo é um trabalho custoso. Para cada um de nós,
como a Pedro, o que Senhor diz é: “Segue-Me”.
Em segundo lugar, havia
alguma coisa enigmática ou oculta nesta declaração sobre João, assim como havia
no versículo 18 sobre Pedro. Isso não indicava que ele não deveria morrer e assim
permanecer até o segundo advento, mas sim que seu ministério deveria ter um caráter
especial. A palavra aqui, traduzida como “fique”,
é aquela que ocorre nos escritos de João tantas vezes quanto em todo o restante
do Novo Testamento. É traduzida de várias maneiras como “permaneça”, “continue”,
“habite”. Ora o ministério de João, como
exemplificado em seu evangelho e nas suas epístolas, tratou especialmente com as
coisas permanentes da revelação de Deus, que nada pode tocar ou manchar. Em Apocalipse,
descobrimos que ele foi o último dos apóstolos a ver o Senhor em Sua gloriosa majestade
e a receber d’Ele, por meio do Seu anjo, a mais completa revelação das coisas que
estão por vir, o que nos leva ao segundo advento, e até mesmo ao estado eterno.
O versículo 23 é uma advertência
para nós sobre o perigo de extrair deduções da Palavra de Deus, e então elevar essas
deduções a afirmações categóricas. Se houvesse um dito entre os irmãos de que João
não morreria, em vista do que o Senhor dissera, talvez não fosse digno de nota.
Mas eles disseram que ele não morreria, ao invés de que ele permaneceria.
Palavras inspiradas permanecem em uma classe por si mesmas, e devemos ter cuidado
ao tirar delas conclusões infundadas.
O último versículo do
nosso evangelho é muito característico. Ele nos lembra de que o que está registrado
dos feitos do Senhor na Terra é apenas uma pequena fração do todo, e isso é verdade
se juntarmos todos os quatro evangelhos. Também é verdade quanto às Suas palavras
e às Suas obras. Este é um fato que ajuda a explicar as coisas que às vezes são
citadas como aparentes discrepâncias. Por exemplo, o Senhor deve ter feito e dito
coisas semelhantes dezenas de vezes durante os anos de Seu serviço incessante em
várias partes da Judeia e da Galileia. E por último, não há exagero de figura no
que é dito sobre o mundo e os livros. João traçou para nós as incomparáveis palavras
e obras do Verbo que Se tornou carne – pelo menos, uma seleção delas, que embora
pequena, é suficiente para nos convencer de que n’Ele temos o Cristo, o Filho de
Deus. Embora Ele tenha assumido uma forma finita, o Verbo que a assumiu é infinito.
Ele colocou, portanto, o selo do infinito em tudo o que Ele fez e disse,
e o mundo e os livros não podem conter isso.
Nunca chegaremos ao fim
de todas as coisas que Jesus fez. Nesta mais apropriada nota, nosso evangelho termina.
[1] N. do T.: A Septuaginta é a mais antiga tradução em grego do texto
hebreu do Antigo Testamento, feita para uso da comunidade de judeus do Egito no
final do século III a.C.
[2] N. do T.: Chama-se “Óbolo de São Pedro” a ajuda que os fiéis oferecem
ao papa como sinal de adesão à disposição do sucessor de Pedro (conforme a crença católica) relativamente às
múltiplas carências da Igreja universal e às obras de caridade em favor dos
mais necessitados
domingo, 15 de setembro de 2019
JOÃO 20
JOÃO 20
Em nosso evangelho Maria
Madalena aparece apenas em conexão com as cenas finais. Ela estava entre as últimas
em pé junto à cruz e entre as primeiras no sepulcro no dia da ressurreição. Não
é fácil juntar os registros dos quatro evangelistas para ver a sequência histórica
dos acontecimentos, mas parece que, tendo vindo com outras mulheres bem cedo, ela
saiu sozinha para informar Pedro e João que o sepulcro estava aberto e vazio e depois
voltou para a vizinhança do sepulcro.
As outras mulheres não
são mencionadas aqui. Nossos pensamentos estão concentrados em Maria Madalena, para
nos levar à instrução espiritual transmitida por meio de suas ações e seus lábios.
Que o Senhor era o Objeto
supremo e cativante diante dela é bastante evidente em suas palavras aos apóstolos,
como registrado no versículo 2. Sua escolha dos dois para quem ela foi é notável,
pois Pedro foi quem pecou tão gravemente antes. Ainda assim, ele amava o Senhor,
como o próximo capítulo registra, e João era o discípulo a quem Jesus amava. Pelo
lado deles, o amor pode ter sido um tanto eclipsado no momento, mas estava lá, e
Maria, em quem o amor estava ardendo brilhantemente, sabia disso.
Além disso, o amor foi
demonstrado, pela maneira como eles responderam ao anúncio que Maria trouxe. Isso
colocou os pés e o coração deles em movimento. Eles correram com ansiosa pressa
e João ultrapassou Pedro. A explicação natural, sem dúvida, era que ele era o mais
jovem; mas havia também uma explicação espiritual. João ficou mais profundamente
impressionado pelo amor do Senhor por ele, como mostrou pelo modo como falava de
si mesmo, enquanto Pedro estava sob a nuvem de ter confiado em seu próprio amor
pelo Senhor, que, quando testado, falhou em uma forma escandalosa e pública. Aquele
que é mais atraído pelo amor de Cristo corre mais depressa. Foi um caso de “Atrai-me Tu; correremos após Ti” (Ct 1:4
– TB).
Ainda Pedro, apesar de
seu fracasso vergonhoso, correu e, chegando ao sepulcro, foi o mais ousado dentre
os dois e foi direto para o interior. Isso levou João a se unir a ele e, portanto,
houve duas testemunhas do fato de que os lençóis de linho, nos quais o corpo sagrado
tinha sido envolvido, não estavam em desordem, mas de uma tal forma que sugeriam
que, longe de o corpo ter sido removido por outros, Jesus havia ressuscitado da
morte em uma tal condição que os lençóis do sepultamento estavam totalmente inalterados.
O versículo 19 do nosso capítulo mostra que, em Seu corpo ressurreto, portas fechadas
não era impedimento para nosso Senhor, assim, sem dúvida, os lençóis da mesma forma
foram deixados exatamente como estavam.
No versículo 8, João fala
por si mesmo – ele creu, embora estivesse aceitando apenas a evidência de seus olhos.
Pedro não é mencionado, pois a fé, embora pudesse estar lá, não está ativa quando
a alma está sob a tenebrosa nuvem de fracasso e pecado, e ainda não está restaurada.
Mas embora João cresse que sua fé era de um tipo pouco inteligente, pois ele, tanto
quanto o resto, ainda não estava iluminado para um entendimento da Escritura. Se
ele tivesse sido iluminado saberia que o Cristo deveria ressuscitar dos mortos (veja
Atos 17:3), o que teria explicado tudo. Então, embora houvesse fé, havia também
ignorância, e isso explica o que lemos no versículo 10. O exemplo dado por Pedro
e João no início da manhã do dia da ressurreição foi seguido à tarde por Cleofas
e sua companhia, conforme registrado em Lucas 24.
A conduta de Maria Madalena
se destaca num brilhante contraste com todo o resto. Os dois discípulos partiram
para sua casa convencidos de que o corpo de Jesus não estava ali. Maria estava igualmente
convencida, mas deixou sua casa e foi permanecer no sepulcro, chorando no
sentimento de sua desolação total. Eles conheciam o Senhor como Alguém que os havia
chamado de barcos e redes. Ela O conhecia como Alguém que a libertou das garras
de sete demônios. Foi uma libertação poderosa e ela O amava muito. Para ela, dois
anjos apareceram e não há registro de que ela tenha tido medo da presença deles.
Isso é notável, já que
nos outros evangelhos o medo é mencionado em conexão com cada aparição. O caso
dela evidentemente ilustra como uma poderosa afeição pode expulsar do coração todas
as outras emoções. Sua resposta à pergunta dos anjos mostrou como Jesus, a Quem
ela chamava de “o Meu Senhor”, monopolizava
todo o espectro de seus pensamentos. Ela reagiu como se encontrar anjos fosse uma
ocorrência diária. Ao procurar seu Senhor, ela perdeu o rastro e parece ter dado
como certo que os anjos estavam tão preocupados com o assunto quanto ela própria.
Mas, evidentemente, até agora, nenhum pensamento de Sua ressurreição havia cruzado
sua mente. Ela só pensava em outros removendo o corpo d’Ele. Ela estava procurando
um Cristo morto.
Naquele momento, o Senhor
ressuscitado interveio e ela se afastou dos anjos para encontrá-Lo ali, embora ela
não O reconhecesse. O mesmo aspecto caracterizou Seu encontro com os dois discípulos
indo para Emaús naquela tarde, e o resto dos discípulos no cenáculo naquela noite.
Era o mesmo Jesus, mas com uma diferença, devido ao fato de estar revestido de um
corpo ressuscitado – ressuscitado, embora ainda não glorificado – portanto, não
O identificaram imediatamente. Ela O confundiu com o jardineiro. Ele, o Grande Pastor
ressuscitado dos mortos, sabia bem que ali estava uma das Suas ovelhas inteiramente
dedicada a Ele, buscando somente a Ele mesmo e chorando porque não sabia onde encontrá-Lo.
Na simples pronunciação
do nome dela, Ele Se revelou a ela que imediatamente respondeu a Ele como seu Mestre.
Tudo o que está registrado, no entanto, nos versículos 11-15, mostra que ela estava
procurando o Seu corpo como morto e, portanto, seu primeiro pensamento ao achá-Lo
vivo foi sem dúvida o de uma retomada das associações na velha base, que prevaleceram
nos “os dias da Sua carne”. É isso que
explica a palavra inicial do Senhor para ela: “Não me toques” (TB). Em vista do novo relacionamento que Ele estava
prestes a anunciar a ela, e por meio dela aos outros discípulos, Ele mostrou a ela
dessa maneira decisiva que as relações não poderiam ser retomadas como eram antes.
Sua morte e ressurreição mudaram tudo. Ele não era menos Homem do que era antes
de morrer, ainda que tenha dado a Sua vida, Ele a tinha tomado novamente em um novo estado e condição adequados aos céus
em que Ele estava prestes a subir. Portanto, agora as relações com Ele devem estar
em uma nova base.
O Senhor acrescentou as
palavras “porque ainda não subi para Meu
Pai” como razão da Sua proibição. Assim, Ele evidentemente indicou que, quando
subisse a Seu Pai, Maria deveria estar em “contato” com Ele. Sua ascensão ao Pai
envolveu o derramamento do Espírito Santo sobre os discípulos, como foi feito
abundantemente claro neste evangelho – ver João 7:39, 14:16, 15:26, 16:13. Quando,
no Pentecostes, Maria, junto com os outros, ficou cheia do Espírito Santo, ela se
viu em seu espírito trazida a um toque muito mais íntimo com o seu Senhor ressuscitado
do que ela jamais experimentara nos dias de Sua vida.
Sem dúvida, os apóstolos
foram privilegiados muito além de nós mesmos na maneira como “ouviram”, “viram”,
“contemplaram”, “tocaram a Palavra da vida” (1 Jo 1:1). No entanto, enquanto caminhavam
com Ele na Palestina, o verdadeiro significado do que observavam era obscuro para
eles. Como João 14:17, 20 nos mostrou, foi somente quando eles tiveram
a habitação do Espírito que souberam que estavam n’Ele e Ele neles
– tinham Sua vida e um novo relacionamento foi estabelecido. Ora também temos o
Espírito de Deus, portanto, embora a manifestação objetiva nos tenha alcançado não
diretamente, como aconteceu com os apóstolos, mas apenas por meio de seus escritos
inspirados, a realização subjetiva pode ser nossa na medida completa. Fazemos bem
em refletir sobre esse assunto muito profundamente.
Outra coisa está neste
excelente versículo. Jesus chama os discípulos: “Meus irmãos”. Eles haviam sido anteriormente designados “os Seus” (Jo 13:1), e Ele os chamara de
“Meus amigos” (Jo 15:14), mas nenhum
deles indica o relacionamento da mesma maneira que “Meus irmãos”. Devemos aprender disso que Ele estabeleceu o relacionamento
como o Ressuscitado, que passou pela morte e triunfou sobre ela. Esse
relacionamento não existe em virtude de Sua encarnação, mas no poder de Sua ressurreição.
Ele realmente participou em “carne e sangue”,
e tomou “a semente de Abraão”, com vistas
ao sofrimento da morte. Tendo provado a morte por todos os homens e sido feito
perfeito por meio dos sofrimentos, Ele Se tornou o Príncipe da nossa salvação e,
assim como o Santificador, Ele reconhece aqueles a quem Ele santifica como Seus
irmãos. Isto é trazido diante de nós em Hebreus 2:9-16. Pela encarnação, Ele veio
para o nosso lado para que, em Sua perfeita e imaculada Humanidade, Ele pudesse
tomar nossa causa. Tendo a tomado, e por Sua morte e ressurreição, produzido libertação
para nós, Ele nos elevou para o Seu lado em identificação com Ele em vida ressuscitada.
Assim, o relacionamento não está na encarnação, mas na ressurreição. Isso também
é um ponto profundamente importante a ser lembrado.
A mensagem que Maria devia
transmitir aos outros discípulos anunciava a nova relação deles com Deus e não apenas
em relação a Si mesmo. Seu Pai é nosso Pai, Seu Deus é nosso Deus. Ele nos coloca
em Seu próprio relacionamento com Deus, mas é claro, de forma subordinada. Nosso
relacionamento com Deus brota do relacionamento d’Ele com o Pai e de nossas relações
com o Filho. Ele não disse “nosso” Pai
e Deus, como se Ele e nós estivéssemos no mesmo nível. Isso devemos observar cuidadosamente,
pois Sua completa preeminência deve ser sempre reconhecida com gratidão. Embora
Ele fale de nós como “Meus irmãos”, nunca
O encontramos sendo mencionado nas Escrituras como “nosso Irmão”, nem mesmo como
“nosso Irmão mais velho”. Tais termos tenderiam a nos fazer pensar d’Ele como se
Ele descesse ao nosso lado, em vez de Ele nos elevar para o Seu lado. Isso também
obscureceria Sua posição preeminente.
Em Sua maravilhosa vida
terrena, o Senhor Jesus havia revelado o Pai, pois o Pai habitou n’Ele, para que
Ele pudesse dizer: “quem Me vê a Mim, vê
o Pai”. Vimos isto quando consideramos o capítulo 14. Ele também ensinou os
discípulos a olhar para Deus como seu “Pai
celestial”, em conexão com todas as suas necessidades e circunstâncias neste
mundo, como os outros evangelhos mostram, mas uma revelação mais completa vem à
luz aqui. Não perdemos a bênção e o benefício da revelação anterior, assim como
não perdemos com a revelação d’Ele como o Todo-Poderoso ou como Jeová; mas precisamos
entender e nos regozijar no conhecimento de Deus como “o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” (Ef 1:3; 1 Pe 1:3). As palavras
do nosso Senhor para Maria foram a primeira indicação deste relacionamento mais completo e mais elevado,
e uma vez que isso veio à luz, as epístolas do Novo Testamento apresentam Deus para
nós dessa maneira. Ele é de fato um “Pai
celestial” para nós em todos os aspectos desta vida, mas não vamos tratar isso
como se fosse tudo. Nosso relacionamento adequado com Deus, como Cristãos, é nessa
base superior.
Maria Madalena – a mulher
com um sensível coração amoroso – foi a primeira a ouvir essas coisas maravilhosas,
e se tornou a mensageira delas para todos nós. Ela podia testemunhar que tinha visto
o Senhor e que Ele tinha feito essas comunicações para ela e, por meio dela, aos
outros.
No final do dia, o Senhor
apareceu a Simão Pedro e a Cleofas e sua companhia que viajavam para Emaús, embora
João não mencione essas manifestações. É claro, no entanto, dos outros evangelhos
que, como o dia da ressurreição avançava, os discípulos tiveram duas testemunhas
de Sua ressurreição – Maria e Pedro – e que o testemunho deles os reuniu em Jerusalém
à medida que a tarde se aproximava. Quando reunidos, Cleofas e sua companhia vieram
entre eles, fornecendo-lhes uma terceira e quarta testemunhas. Então, quando as
portas foram fechadas, o próprio Jesus Se colocou no meio deles, identificando-Se
com as mãos e o lado traspassados e enchendo o coração deles de alegria.
As portas estavam fechadas
por medo dos judeus. Sua presença como ressuscitado causou alegria ao se
interpor ao medo deles. Mesmo assim, ainda faltava um elemento, que só poderia ser
fornecido quando fossem cheios do Espírito de Deus. No dia de Pentecostes, o medo
foi engolido por completo e eles se encheram de ousadia e poder.
O Senhor Jesus Cristo,
necessariamente, ocupa sempre o lugar central. Ele o fez na morte, conforme registrado
no versículo 18 do capítulo anterior. Aqui Ele o faz em ressurreição, e assim houve
um cumprimento da Sua palavra registrada em Mateus 18:20. Na noite do dia da ressurreição,
os discípulos foram reunidos em Seu Nome, embora apenas crendo nas testemunhas de
Sua ressurreição. Ele entrou no meio deles em forma visível. A principal diferença
para nós hoje é que Ele toma o Seu lugar de forma invisível, onde os discípulos
estão reunidos em Seu Nome. Quando a Sua presença é percebida, o efeito é como aqui
– paz e alegria. A palavra da paz veio de Seus lábios. A alegria seguiu-se quando
seus olhos confirmaram a evidência fornecida por seus ouvidos.
Lucas nos diz, em Atos
1, que Ele Se mostrou vivo “com muitas e
infalíveis provas”, e preeminente entre elas estava a exibição para Seus discípulos
de Suas mãos e lado perfurados. Essas marcas sagradas O identificaram além de qualquer
dúvida. Morte e ressurreição tinham sido cumpridas, e elas eram como pilares gêmeos
nos quais a paz que Ele anunciava estava firmemente estabelecida. Duas vezes o Senhor
os saudou com paz em Seus lábios, pois Ele sabia muito bem que, até que isso fosse
cumprido no coração deles, teriam pouca habilidade para receber as coisas adicionais
que Ele tinha para lhes transmitir. É exatamente assim conosco hoje. Até que desfrutemos
da paz estabelecida com Deus, não poderemos fazer progresso espiritual.
Tendo anunciado a paz
pela segunda vez, o Senhor ressuscitado comissionou Seus discípulos em palavras
que, embora muito breves, estão cheias de profundo significado. Cada evangelho registra
uma única comissão, embora com diferenças características. Mateus registra isso
em termos que especificamente atingem um leitor judeu. Eles não deveriam mais fazer
discípulos da muito limitada esfera indicada anteriormente naquele evangelho (Mt.
10: 5-11), mas de todas as nações, e deveriam batizar no Nome que veio à
luz em Cristo, e não com o batismo de João ou algo parecido com isso. A comissão
lá é assim redigida para ter uma aplicação para aqueles que venham a fazer discípulos
depois que a Igreja se for. Em Marcos também é enfatizado o aspecto universal da
pregação e serviço apostólico. Este é o caso também em Lucas, onde a plenitude da graça parece ser o ponto; graça que
poderia começar em Jerusalém, o pior lugar, e se estender a todas as nações. Os
três evangelhos sinóticos têm isso em comum; a comissão em cada um deles diz respeito
à pregação e ao serviço dos apóstolos.
Mas em João, como convém
a esse evangelho, uma nota mais profunda é atingida. O Senhor Jesus fora enviado
do Pai, para que n’Ele o Pai pudesse ser feito conhecido. Como o décimo quarto capítulo
tornou tão claro, Ele estava no Pai quanto ao Seu ser, Sua vida, Sua natureza e,
consequentemente, o Pai estava n’Ele, e assim foi totalmente feito conhecido. Agora,
tendo morrido e ressuscitado, Ele estava indo para o Pai, mas estava deixando no
mundo discípulos, a quem agora Ele enviava para que fossem para Ele, segundo o
padrão da maneira como Ele fora enviado para ser para o Pai. Se, portanto, quisermos
entender a missão deles, devemos primeiro entender a missão do próprio Senhor como
enviado do Pai.
É notável quantas vezes
neste evangelho o Senhor é referido como aqu’Ele que havia sido enviado do Pai ao
mundo. Em palavras ligeiramente diferentes, isso é mencionado mais de quarenta vezes,
e podemos ver quão relevante é pelo fato de que Ele nos é apresentado como Alguém
que era Deus e estava com Deus. Ele não era, portanto, Um natural do mundo, como
se Ele tivesse saído daqui. Ele veio de cima e tudo o que Ele era trouxe Consigo.
Suas palavras e Suas obras eram todas do Pai. Agora uma coisa nova é levada a efeito,
e em sua instituição o Senhor estava cumprindo Sua própria declaração em Sua oração
ao Pai – veja João 17:18. Ele estava partindo e agora eles deveriam ser enviados
como vindos d’Ele.
O que estava por trás
desse envio era o fato de que eles também não eram do mundo como Ele não fora. Isso
também é afirmado em João 17:16. Houve essa diferença, contudo; uma vez que eles
eram naturais do mundo, então, no caso deles, havia um elo que precisava ser quebrado
e havia novos elos que precisavam ser formados. Isso imediatamente nos leva ao que
está estabelecido no versículo 22 do nosso capítulo.
As palavras de comissão
foram seguidas por palavras de concessão, juntamente com uma ação peculiar. Ele
soprou sobre – ou, mais corretamente, para – eles, e disse: “Recebei Espírito Santo” (JND), pois o artigo
definido “o” está ausente no original. Devemos observar a conexão entre isso e o
que é registrado quanto à criação de Adão em Gênesis 2:7. Quanto ao seu corpo, Adão
foi formado do pó da terra, mas a parte espiritual dele veio a existir pelo Senhor
Deus, soprando em suas narinas o fôlego de vida, e assim ele foi feito uma alma
vivente. Ora, nosso Senhor, que é o último Adão, é um espírito vivificante ou
doador de vida, como lemos em 1 Coríntios 15:45, e aqui vemos Ele soprando para
Seus discípulos Sua própria vida ressuscitada.
Mas sendo assim, por que
Ele disse: “Recebei Espírito Santo”?
Porque a Sua própria vida como o Homem ressuscitado é na energia do Espírito Santo.
Ele foi “morto na carne, mas vivificado no
Espírito” (1 Pe 3:18 – TB). No dia de Pentecostes, como registrado em Atos 2,
os discípulos realmente receberam o Espírito Santo, como uma Pessoa divina
habitando o próprio corpo deles, mas aqui temos algo preliminar a isso. No mesmo
dia em que Jesus entrou em Sua vida ressuscitada, conforme vivificado pelo Espírito
de Deus, Ele a comunicou aos seus.
Devemos conectar este
grande ato com o que precede e com o que se segue. Como eles poderiam ser enviados
ao mundo para serem para Ele como Ele havia sido enviado pelo Pai, a menos que possuíssem
Sua vida ressuscitada? A vida natural que eles tiveram de Adão não lhes deu nenhuma
competência para tal missão. Eles não tinham poder até que o Espírito Santo
foi derramado abundantemente no Pentecostes, mas eles agora tinham a vida e
a natureza que tornavam a missão possível. Não lemos sobre esta ação nos
outros evangelhos, mas lemos em Lucas 24:45, “Então abriu-lhes o entendimento para entenderem as Escrituras”
(JND). Essa abertura do entendimento deles foi, julgamos, o resultado do sopro de
Sua vida ressuscitada.
Em nosso evangelho, no
entanto, há duas coisas conectadas a isso: primeiro, deu-lhes a capacidade de serem
testemunhas no mundo como enviados por Ele; e em segundo lugar, foi-lhes confiado
o poder administrativo de perdoar ou reter pecados, não eternamente, é claro, mas
de forma governamental. No evangelho de Mateus, vemos que o Senhor, antes de Sua
morte e ressurreição, indicou que tais poderes deveriam ser conferidos a Pedro (Mt
16.19) e aos apóstolos como um todo (Mt 18.18), em cada ocasião esperando
ansiosamente pelo futuro. Aqui o poder é realmente conferido. Primeiramente,
sem dúvida, o poder era apostólico, e vemos Pedro empunhando esse poder em Atos
5:1-11, e o Espírito Santo ratificando a ação de Pedro de forma incontestável. Mas
em 1 Coríntios 5:3-5, 12-13, temos Paulo empunhando esse poder e convocando a Igreja
para agir com ele em reter o pecado do malfeitor. Em 2 Coríntios 2:4-8, encontramos
Paulo convocando a Igreja para reverter a ação em vista do arrependimento do malfeitor.
Eles deviam perdoar; e o versículo 10 desse capítulo é muito instrutivo em relação
a isso.
Em outros evangelhos,
o nome de Tomé aparece apenas na lista dos doze apóstolos: tudo o que sabemos dele
está contido em nosso evangelho. Isso é significativo. Ele é mencionado em João
11 e João 14 e suas palavras nessas ocasiões nos preparam para a luz na qual seu
caráter aparece aqui. Ele era evidentemente um homem de mente simples, prática
e sem imaginação, muito inclinado a ser materialista e, portanto, difícil de convencer
de qualquer coisa que estivesse fora do plano da experiência humana comum. Estamos
agora muito próximos do versículo que declara o objetivo para o qual este evangelho
é projetado para nos conduzir, e estamos considerando o último e maior dos sinais
que João trouxe diante de nós. Por isso o caso de Tomé é de particular valor neste
evangelho.
Ele não estava presente
na noite do dia da ressurreição e, portanto, quando ouviu o testemunho dos outros
discípulos, que eles condensaram em três palavras da mais profunda importância:
“vimos o Senhor”, ele não estava preparado
para aceitar isso. Em um espírito de duvidosa teimosia, ele declarou que, a não
ser que tivesse evidências visíveis e tangíveis do tipo mais indubitável, evidências
que mais claramente identificassem aqu’Ele que apareceu com aqu’Ele que morreu na
cruz, ele não iria acreditar. Desafiando assim o testemunho do discípulo, ele estava
realmente lançando um desafio ao seu Senhor ressuscitado, o qual, se aceito, colocaria
Sua ressurreição além de toda questão, no que dizia respeito a Tomé.
O Senhor em graça condescendente
aceitou o desafio uma semana depois. Mais uma vez Ele apareceu no meio deles embora
as portas estivessem fechadas. Novamente Ele os saudou com as palavras “Paz seja convosco”. Então Ele ordenou a
Tomé que fizesse exatamente o que ele havia dito, que ele pudesse ter não apenas
o visível, mas também a evidência tangível que ele desejava. E não apenas isso,
pois Ele deu um sinal espiritual também. Suas palavras a Tomé revelaram que o desafio
lançado quando Ele não estava visivelmente presente era perfeitamente conhecido
pelo Senhor ressuscitado. No final do capítulo 1, tivemos um incidente semelhante.
Jesus mostrou a Natanael que Ele o havia visto quando ele se considerava despercebido
sob a figueira, e Natanael foi convencido e O confessou como o Filho de Deus e o
Rei de Israel.
Isso foi nos dias de Sua
carne, mas Ele Se revelou como aqu’Ele que tudo vê. Aqui os dias da Sua carne
terminaram e Ele ressuscitou, mas Ele é revelado como aqu’Ele que tudo ouve. O
efeito sobre Tomé com relação a tudo isso foi desnorteante. O obstinado duvidoso,
quando está convencido, está realmente convencido! Poucos minutos atrás, ele estava
se arrastando de longe, muito atrás dos outros discípulos, agora em sua confissão
arrebatadora ele vai a um limite definitivamente além deles. Natanael foi explícito
em sua confissão no início: Tomé no final é ainda mais explícito. Apenas cinco palavras!
Mas que palavras eram elas – “Senhor meu
e Deus meu”!
Aqueles que negam a Deidade
de nosso Senhor têm procurado invalidar a força desta frase tratando como sendo
uma mera exclamação, dirigida a ninguém em particular, mas o registro distintamente
declara que as palavras foram ditas ao Senhor, sendo a forma delas no original muito
enfática, já que ele usou o artigo definido duas vezes. Jesus ressuscitado era o
Senhor e o Deus para ele. E o que é mais significativo ainda, o Senhor
respondeu: “Tomé, creste...”. Além de toda a dúvida, Ele tratou
a exclamação cheia de gozo de Tomé como fé apoderando-se do FATO. Em outras palavras,
Ele aceitou a confissão como sendo verdadeira. Não há pecado maior do que um mero
homem aceitar honras divinas ou adulação, como testemunha o golpe drástico em Herodes,
registrado em Atos 12. Quando João caiu diante de um anjo e a respeito de adorá-lo,
a resposta instantânea foi: “Não faças
tal” (Ap 22:9). Em vez de repreender Tomé, Jesus aprovou sua confissão e chamou-a
de fé.
A plena Deidade de Jesus
sendo assim reconhecida, chegamos ao fim para o qual o evangelho é projetado para
nos conduzir. Muito apropriadamente, portanto, os versículos 30 e 31 fecham este
capítulo. Somos lembrados de que todos os sinais miraculosos registrados são apenas
uma pequena fração do todo. Entretanto, aqueles que estão registrados são bastante
suficientes, e neste evangelho eles são especialmente selecionados para oferecer
um amplo terreno para a fé em Jesus como o Cristo, o Filho de Deus, pois é a fé
nisto que traz vida por meio do Seu Nome.
Note que a última e conclusiva
prova de que Jesus é o Filho de Deus é que Ele aceitou a atribuição da Deidade a
Si mesmo. Podemos dizer que, se Ele é Deus, Ele é o Filho de Deus; e, inversamente,
que se Ele é o Filho de Deus, Ele é Deus. Note também que Sua Filiação é o grande
ponto no evangelho que O delineia desde as profundidades insondáveis da eternidade
passada, e não dá detalhes do nascimento virginal. Se realmente aceitarmos este
evangelho em fé, não teremos dúvidas de que Sua Filiação é eterna e não algo assumido
no tempo.
Antes de deixarmos este
capítulo, temos apenas de assinalar o significado das palavras do Senhor no versículo
29. Há algo melhor do que aceitar provas oculares e tangíveis, e isso é crer
na Palavra sem qualquer demonstração como essa de Tomé. Ele sem dúvida ilustra
a maneira pela qual um remanescente piedoso de Israel vai descobrir a verdade em
um dia vindouro. A palavra do profeta deve ser cumprida: “Olharão para Mim, a Quem traspassaram” (Zc 12:10), e então clamarão:
“Deus meu, nós, Israel, Te conhecemos”
(Oseias 8:2). A maior bem-aventurança dos que creem sem ver é a porção de todos
os que recebem na fé o evangelho hoje, seja judeu ou gentio.
Não podemos render a Deus
nenhum tributo que seja mais agradável a Ele do que aquele de recebê-Lo plena e
simplesmente por Sua palavra, sem pedir qualquer confirmação por vista ou por sentimento.
Como a luz pode ser decomposta nas cores do arco-íris, assim o Nome Divino contém
muitas características de igual valor e importância, mas enfatiza especialmente
a verdade e confiabilidade de Sua Palavra – “engrandeceste a Tua Palavra acima de todo Teu Nome” (Sl 138:2). Vendo
que no princípio o pecado entrou pela descrença na Palavra Divina, quão apropriado
é isto! A presente época do evangelho é peculiarmente a época em que os homens creem
sem ver – “Ao Qual, não O havendo visto,
amais; no qual, não O vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e
glorioso; Alcançando [recebendo
– JND] o fim da vossa fé, a salvação das
almas” (1 Pe 1:8-9).
Essa Escritura nos dá
um vislumbre da bem-aventurança especial da qual o Senhor falou a Tomé. Ela pode
ser nossa, e quanto mais aguçada e simples for nossa fé, mais profunda será a medida
que ela será nossa. Que a completa bem-aventurança seja conhecida por cada leitor
dessas linhas.
sábado, 14 de setembro de 2019
JOÃO 19
JOÃO 19
No primeiro versículo
deste capítulo, a palavra “pois” deve
ser notada. Pilatos já havia pronunciado o veredicto “Não acho n’Ele crime algum” quanto a Jesus, mas porque os judeus
clamavam por Barrabás e O rejeitavam, ele O levou e O açoitou. Todas as tentativas
de exibição da justiça humana comum foram jogadas ao vento, todas as decências públicas
foram ultrajadas. Tomando a sentença do juiz como liberação para a sua ação, os
soldados prosseguiram com o caso com suas maneiras brutais. No entanto, a mão de
Deus estava tão acima de Pilatos que uma segunda e ainda uma terceira vez ele foi
obrigado a pronunciar sobre o Senhor o veredicto “Não acho n’Ele crime algum”. Esta foi uma proclamação muito mais extensa
do que se ele tivesse simplesmente declarado que Ele não era culpado das específicas
ofensas alegadas contra Ele. Ele tentou jogar o ônus da sentença de morte sobre
os judeus. No entanto eles o rejeitaram declarando que Sua reivindicação de ser
o Filho de Deus exigia a morte de acordo com a lei deles.
Eles disseram que Ele
deveria morrer porque disse que era o Filho de Deus, enquanto exigiam que
Pilatos O condenasse porque Ele disse que era o Rei de Israel. No início
do evangelho, ouvimos Natanael O reconhecendo destas duas maneiras, como nós, graças
a Deus, O reconhecemos hoje. Mas por essas duas acusações Ele foi condenado.
A observação do evangelista
no versículo 8 lança grande quantidade de luz sobre a situação no que diz respeito
a Pilatos. A história secular nos informa que ele severamente contrariou os judeus
nos primeiros anos de seu governo e, portanto, temia irritá-los ainda mais. No entanto,
ele estava convencido da inocência do Prisioneiro, cuja postura serena o deixava
ainda mais desconfortável. A acusação referente ao “Filho de Deus” gerou temores que provavelmente eram supersticiosos,
mesmo assim poderosos, e que suscitaram a pergunta: “Donde és Tu?”
Se essa pergunta tivesse
surgido de um verdadeiro exercício espiritual, o Senhor, sem dúvida, a teria respondido,
como fez com os dois discípulos quando Lhe perguntaram: “Onde moras?”, no primeiro capítulo deste evangelho. Como a pergunta
foi motivada pela superstição e medo, o Senhor não lhe deu resposta. Isso levou
Pilatos à ameaçadora afirmação do poder sobre a vida e a morte que ele possuía sob
César. A resposta do Senhor, evidentemente, aumentou os temores de Pilatos – pois
o Prisioneiro assumiu calmamente a posição judicial e, com um ar decisivo, direcionou
Pilatos para um Poder superior ao de César como a verdadeira Fonte de qualquer autoridade
transitória que ele possuísse, e também julgou o grau de culpa ligado a ele mesmo e aos líderes judeus, respectivamente.
A desesperada intenção estava com os judeus e Pilatos era apenas a ferramenta
deles. Ainda assim, embora menos culpado do que eles, ele era definitivamente um
homem culpado. Foi uma situação perturbadora para Pilatos, que se viu sem saber
o que fazer na presença do Verbo que Se fez carne. Qual foi então a resposta à pergunta
pendente de Pilatos? Que Jesus certamente era mesmo “de cima”, vindo da Fonte da autoridade de Pilatos.
Esse episódio aumentou
muito o desejo de Pilatos de libertar Jesus, mas os judeus habilidosos sabiam como
exercer uma pressão decisiva. Em vista da tensão anteriormente existente entre ele
e os judeus, ele só podia considerar o clamor deles, registrado no versículo 12,
como uma ameaça direta de perder seu cargo diante de César se ele soltasse Jesus.
Os próprios líderes judeus “amavam mais a
glória dos homens do que a glória de Deus” (Jo 12:43); Pilatos tinha muito mais
consideração pelo louvor de César do que pelo julgamento de acordo com a verdade
e a justiça.
Ele fez, no entanto, mais
um apelo. Em João 18:31, vimos ele fazendo uma sugestão calculada para apelar ao
orgulho nacional deles; novamente no versículo 39, ele fez uma pergunta, apelando
ao costume deles. Agora, em nosso capítulo, versículos 13 e 14, ele faz um apelo
ao sentimento deles. Tudo, no entanto, foi em vão no que diz respeito ao seu desejo
de despojar-se da responsabilidade de pronunciar julgamento contra o Senhor. Tudo
foi ordenado para que a culpa dos judeus e, mais especialmente, dos principais dos
sacerdotes, fosse proclamada de uma maneira cabal pelos próprios lábios deles. Eles
coroam seu clamor: “Este não, mas Barrabás”,
com a afirmação: “Não temos rei, senão o
César”.
A predição de Oseias foi:
“Os filhos de Israel ficarão muitos dias
sem rei e um príncipe” (Os 3:4). As duas tribos tinham os reis da linhagem designada
por Deus e as dez tribos tinham príncipes de sua própria escolha. Oseias declarou
que em breve eles não deveriam ter nenhum dos dois. Mas, como se isso não bastasse
para esses homens maus, eles agora deliberadamente aceitavam o despotismo[1] dos
gentios. Eles apelaram para César e, sob o calcanhar de ferro[2] de
uma sucessão de déspotas, Deus achou por bem deixá-los. Por dezenove séculos, os
dois nomes, Barrabás e César, podem servir para resumir a história de miséria
dos judeus. O espírito de ausência de lei e de insurreição da humanidade havia sido
encabeçado em Barrabás: a ordem que é imposta pela poderosa autocracia[3] foi
expressa em César. Por dezenove séculos os judeus sofreram; Em um primeiro
momento sob a crueldade organizada das autoridades e, depois, sob as turbas desorganizadas,
sendo moídos, por assim dizer, entre a pedra de moinho superior e a inferior. Eles
ainda precisam sofrer sob as últimas formas de César e Barrabás, o que se provará
ser numa forma pior do que a primeira.
Quando Pilatos trouxe
Jesus para fazer seu último apelo, ele se assentou no tribunal no lugar chamado
Litóstrotos, o que indicava que ele estava prestes a pronunciar a sentença do caso.
João faz uma pausa aqui para nos indicar sobre o horário, que está registrado no
versículo 14. O fato de que há uma aparente discrepância entre o horário dado
aqui e aquele dado tão claramente em Marcos 15:25, tem ocasionado muita discussão
e controvérsia. Não podemos deixar de perguntar: Se Ele foi crucificado na hora
terceira, como podia ser dito que Pilatos deu a sua sentença na hora sexta? A solução
parece ser que o nosso evangelista, lidando com o que aconteceu diante do juiz romano,
usa o cálculo de tempo romano, que era similar ao nosso, enquanto Marcos o calcula
de acordo com o costume judaico. Já que isso é assim, tudo é simples. Era cerca
de seis horas da manhã quando o julgamento de Pilatos chegou ao fim e cerca de nove
horas da manhã, quando Jesus foi crucificado. A “preparação da Páscoa” durava 24 horas, começando às 6 horas da noite
anterior. Nessas 24 horas estavam compreendidos os eventos mais tremendos do tempo,
ou na verdade, da eternidade.
Em nosso evangelho nada
é dito quanto ao escárnio adicional dos soldados romanos, quando Ele foi entregue
a eles, pois estas eram nada mais do que as ações grosseiras dos pagãos que
vinham à tona. O que nos é dito no versículo 16 é que Pilatos O entregou “a eles”, isto é, aos principais dos
sacerdotes e os servos, dos quais o versículo 6 tinha falado. Eles eram seus perseguidores
e acusadores. A animosidade estava com eles. Eles eram os que odiavam tanto a Ele
como a Seu Pai. Pilatos O entregou nas mãos deles para que pudessem perpetuar o
seu maior pecado, entregando-O para ser executado pelos gentios.
Como os outros evangelhos
mostram, o Senhor usou expressões tais como “tome a sua cruz” (Mt 16:24 – TB) e “carrega a sua cruz” (Lc 14:27 – TB), como figurativo do fato de que
Seu discípulo deve estar preparado para ser condenado à morte pelo mundo. A força
completa dessa figura é vista aqui, pois “levando
Ele às costas a Sua cruz, saiu para o lugar chamado Caveira”. O lugar recebeu
o nome por causa da configuração peculiar da rocha, mas é significativo por tudo
isso! Uma caveira fala do fim humilhante de todo o poder e glória do homem. Alguns
homens podem ter tido um cérebro brilhante e poderoso como nunca existiu; mas ele
se transformou em uma caveira! O Filho de Deus aceitou o julgamento de morte como
vindo das mãos do homem, e Ele a carregou para um lugar que estabelecia simbolicamente
o fim de toda glória do homem.
Além disso, Ele aceitou
a morte das mãos dos homens em sua forma mais vergonhosa. A crucificação foi peculiarmente
uma morte de repúdio e vergonha. Como uma invenção romana, expressava o arrogante
desprezo com o qual levavam à morte os bárbaros conquistados, pregando-os como se
fossem vermes. Para esse tipo de morte Jesus foi entregue pelos líderes dos judeus.
João nos dá a mais breve e simples declaração desse tremendo fato. O Senhor da glória
foi crucificado. Esse fato não precisa de embelezamento de nenhum tipo.
Mas quando isso aconteceu,
Pilatos interveio, escrevendo um título e o colocando na cruz. Parece que nenhum
dos evangelistas cita cada palavra do título, embora João esteja mais próximo em
fazê-lo. Na íntegra parece ter sido: “Este
é Jesus Nazareno, o Rei dos Judeus”. No que diz respeito aos judeus, esse ato
de Pilatos foi definitivamente provocativo e tinha essa intenção. Eles o
pressionaram na condenação de Jesus e ele retaliou com uma declaração pública de
que o odiado Jesus Nazareno era o Rei dos judeus. Esta era a última coisa que eles
queriam admitir, daí o protesto deles. Mas aqui Pilatos foi inflexível. Ele se recusou
a alterar um jota[4]
ou til[5], e
sua curta resposta, “O que escrevi, escrevi”,
tornou-se quase proverbial.
Em tudo isso podemos ver
a mão de Deus. O Verbo havia Se tornado carne e habitou entre nós. Deus amou o mundo
de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito. Ele era conhecido entre os homens
como Jesus Nazareno – um título de menosprezo. Quando Ele entrou em Jerusalém, uma
semana antes, houve algum testemunho de Sua glória, e se não houvesse, as próprias
pedras teriam imediatamente clamado – assim nos diz Lucas. Mas aqui, de fato, não
havia testemunho humano, e assim um pedaço de tábua, inscrito pela mão de Pilatos,
ou por sua ordem, clamava que o desprezado Jesus Nazareno era de fato o Rei dos
judeus. É notável como nosso próprio Senhor adotou o título de vergonha, e o teceu
como uma coroa para Sua fronte quando ressuscitado e glorificado. É um fato surpreendente
que JESUS NAZARENO ESTÁ NO CÉU – veja Atos 22:8.
O título foi escrito nos
três idiomas predominantes daquela época. Hebraico, a língua na qual a Lei de Moisés
surgiu, a linguagem da religião. Grego, a língua da cultura gentia. Latim, a linguagem
do imperialismo gentio. Desta maneira representativa, o mundo inteiro estava envolvido
em Sua morte.
No versículo 23, os soldados
romanos aparecem como instrumentos de Sua morte, e também como cumprindo profecias
que estiveram na Escritura por cerca de mil anos e das quais nada sabiam. No Salmo
22, Davi previu a divisão de Suas vestes entre eles e a sorte sendo lançada
sobre Sua túnica. Essas duas coisas fizeram os quatro soldados e João registrou
as circunstâncias que levaram a um tão exato cumprimento. Sua túnica era sem costura,
toda tecida de alto a baixo. Coisas que para nós podem parecer triviais levam ao
cumprimento da Palavra de Deus.
Não podemos deixar de
pensar, no entanto, que essa característica é mencionada porque tem um valor simbólico.
Tudo em nosso Senhor, tanto em relação à Sua Pessoa como à Sua obra, era de uma
só peça, toda tecida sem costura. Com o homem em sua condição caída, é diferente.
O símbolo apropriado para o homem e sua obra é o avental de folhas de figueira ao
qual Adão e sua esposa tinham recorrido depois de terem pecado. Eles costuraram
folhas de figueira juntos, e qualquer um que conheça a forma da folha de figueira
perceberá quantas costuras deve ter tido. Tudo era uma colcha de retalhos de um
tipo elaborado. Deles era o avental de retalhos: D’Ele era a túnica sem costura.
Naquela túnica, Jesus
apareceu diante dos homens, o símbolo de Sua perfeição e não deveria ser rasgado.
É notável que João apenas fale dessa túnica, dizendo que foi tecida “de alto a baixo”, pois, ao contrário
dos outros evangelhos, ele omite qualquer menção ao véu no templo que “se rasgou em dois, de alto a baixo”. Tudo
sobre o Senhor testificou do fato de que Ele veio de cima e estava acima de tudo.
E o golpe que na hora de Sua morte colocou de lado a velha ordem das coisas também
veio do alto.
Os versículos 25-27 são
particularmente impressionantes como ocorrendo neste evangelho, escritos como se
fossem declarar Sua glória divina para que pudéssemos acreditar que Ele é o Cristo,
o Filho de Deus. Ao vê-Lo assim, poderíamos supor que tais coisas inferiores, como
as relações humanas, seriam desconsideradas. Mas é exatamente o oposto. Por todo
o evangelho, notamos como a realidade da Sua Humanidade é enfatizada. Toda perfeição
humana alcançou sua plena manifestação n’Ele e, portanto, vemos a afeição relacionada
com os vínculos familiares humanos totalmente manifestada, mesmo na hora de Sua
mais profunda agonia. A hora chegou quando as palavras do idoso Simeão a Maria foram
cumpridas – “uma espada traspassará também
a tua própria alma”. A espada de Jeová, segundo Zacarias, estava para se
levantar contra o verdadeiro Pastor de Israel, mas uma espada de outro tipo também
traspassaria a alma de Sua mãe, e o Pastor pensava nisso.
Apenas nove palavras foram
ditas – cinco para Maria e quatro para João; mas o significado delas era claro,
e formaram um acorde de amor que encontrou uma resposta imediata. Jesus confiou
Sua mãe ao discípulo que Ele amava e quem, no conhecimento de Seu amor, amava em
retorno. O amor pode ser confiável, especialmente quando não é mero afeto humano,
mas divino em sua fonte, como brotando da apreciação do amor de Jesus.
No versículo 28, recebemos
outro daqueles lampejos de onisciência que caracterizam este evangelho. Alguns versículos
antes vimos os soldados cumprindo as Escrituras, embora totalmente inconscientes
de que estavam fazendo isso. Agora vemos o próprio Jesus naquela hora de trevas
inspecionando todo o campo da profecia, e bem consciente de que, de todas as predições
centradas em Sua morte, apenas uma permanecia para ser cumprida. No Salmo 69, Davi
escreveu: “Na Minha sede Me deram a
beber vinagre”. Uma coisa pequena em si mesma, mas cada palavra de Deus deve
ser cumprida em sua época, e somos informados de que naquela hora de sofrimento
Ele foi capaz de elevar-Se acima de Suas circunstâncias e não apenas discernir a
única coisa que faltava, mas também proferir as palavras que imediatamente
fizeram com que isso se cumprisse. Nenhum mero homem poderia ter feito uma ou outra
coisa.
O mais notável é que,
pouco antes de ser crucificado, os soldados Lhe deram vinagre misturado com fel
e mirra, mas Ele não o aceitou, como registrado em Mateus e Marcos. Isto foi sem
dúvida porque Ele não teria nada de qualquer dispositivo humano para diminuir o
sofrimento físico envolvido, e também porque naquele momento não havia sede da
Sua parte. As previsões divinas devem ser cumpridas com exatidão e precisão.
João não faz menção das
três horas de trevas, nem do abandono com o amargo clamor que isso suscitou, previsto
no primeiro versículo do Salmo 22. Essas coisas não ilustram particularmente a Deidade
de Jesus, sobre a qual o Espírito de Deus o levou a colocar tal ênfase. O que ilustrou
foi o triunfante clamor com grande voz com o qual Sua vida terrena se encerrou.
O Salmo 22 termina com as palavras “Ele o
fez”, o que equivale no Novo Testamento a: “Está consumado”. Ele havia chegado ao mundo com pleno conhecimento
de tudo o que Lhe havia sido confiado pelo Pai: Ele agora estava deixando o
mundo no pleno conhecimento de que tudo havia sido cumprido; não faltava nada. O
profeta previu que Jeová deveria “fazer
de Sua alma uma oferta pelo pecado” (JND), e isso foi realizado. Como consequência,
a fé pode agora pegar a linguagem de Isaías 53:5, e torná-la sua, assim como o remanescente
arrependido de Israel irá adotá-la em um dia vindouro.
Nisso também nosso Senhor
era único. Tem havido servos de Deus que, como Paulo, puderam falar com confiança
de terem concluído sua carreira, mas ninguém ousaria afirmar que haviam dado o toque
final à obra em suas mãos; eles na verdade entregaram a obra àquele que deveria
sucedê-los. A Sua obra foi exclusivamente Sua, Ele a levou à perfeita conclusão.
Ele poderia avaliar sua própria obra e declará-la consumada. Todos os outros têm
que humildemente submeter sua obra ao escrutínio e veredicto divino no dia vindouro.
Tanto Mateus e Marcos
nos dizem que depois de clamar com uma voz alta, Jesus expirou. Parece que Lucas
e João nos deram uma parte dessa última declaração. Se assim for, deve ter sido:
“Está consumado; Pai, nas Tuas mãos entrego
o Meu espírito”. A primeira parte serve para enfatizar Sua Deidade, de modo
que João a registra: a segunda enfatiza Sua perfeita Humanidade, em Sua dependência
de Deus, de modo que Lucas a registra. Fiel também ao caráter de seu evangelho,
João narra o próprio ato de Sua morte de uma maneira especial – “Ele entregou o Seu espírito” (JND). O homem
sábio do Velho Testamento nos disse: “Nenhum
homem há que tenha domínio sobre o espírito, para reter o espírito; nem tem
poder sobre o dia da morte” (Ec 8:8), mas aqui está aqu’Ele que tinha esse poder.
Ele é capaz de um momento erguer Sua voz com força inabalável, e no momento seguinte
entregar Seu espírito, e assim cumprir Suas próprias palavras registradas em João
10. Verdadeiramente, ali Ele falou em dar Sua “vida” ou “alma”, dizendo:
“Ninguém ma tira de Mim, mas Eu de Mim
mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la”. Mas as
duas afirmações estão inteiramente de acordo, pois todos sabemos que quando o espírito
humano deixa o corpo, a vida de um homem na Terra cessa. Quando Deus chama o espírito
do homem, ele se vai. Aqui está Alguém que tem pleno comando sobre o Seu espírito;
Ele o entregou ao Seu Pai e assim deu a Sua vida.
Encontramos no
próximo capítulo que, depois de ter dado Sua vida, Ele a tomou novamente em ressurreição.
O restante de nosso capítulo está repleto de várias atividades de homens, alguns
deles Seus inimigos e alguns Seus amigos, mas todos trabalhando juntos para o fim
de que o determinado conselho de Deus fosse cumprido, exatamente como Ele havia
falado em Sua palavra.
Primeiros na cena estavam
os judeus, os homens que eram Seus mais implacáveis inimigos. Eles eram grandes
defensores do lado cerimonial das coisas e o Sábado da Páscoa era um dia de grande
santidade aos olhos deles. Eles não podiam entrar na sala da audiência a fim de
não se contaminarem, como vimos no último capítulo. Agora vemos a ideia de que os
cadáveres de homens, por eles estimados como malfeitores, permanecer expostos à
vista dos homens e do céu naquele dia era abominável para a alma ritualística deles.
Eles estavam certos, pois assim tinha sido ordenado em Deuteronômio 21:23, mas esse
era o tipo de preceito que eles amavam observar, enquanto negligenciavam questões
de maior importância. Assim, a partir deles veio o pedido de que a morte pudesse
ser apressada pela quebra das pernas, tão indiretamente eles fizeram sua parte em
trazer o cumprimento de outra das muitas previsões que estavam focadas naquele grande
dia em que Jesus morreu.
Poderíamos supor que a
vida com o Senhor teria se prolongado muito além das outras, mas, na verdade, foi
o oposto, justamente porque Ele deliberadamente entregou Sua vida. Se Ele não tivesse
feito isso, o ato do homem ao crucificá-Lo não teria tido poder contra Ele. É significativo
também que João não designe os dois homens como ladrões ou malfeitores; eles eram
“outros dois” (v. 18). Não há necessidade
de mencionar sobre o caráter particularmente ruim deles para aumentar o contraste.
A grandeza do Filho Divino é tal que basta dizer que eles eram dois outros homens.
A ordem de Pilatos para
os soldados, pela insistência dos judeus, teve dois efeitos. Primeiro, enquanto
os outros dois tiveram as pernas quebradas para apressar o seu fim, nenhum osso
de nosso Senhor foi quebrado, e assim a Escritura foi cumprida. A referência foi
ao Salmo 34:20, e às instruções dadas quanto ao cordeiro pascal em Êxodo 12, e repetidas
em Números 9. É digno de nota mostrar como o Espírito de Deus identifica plenamente
a figura do cordeiro com o seu Antítipo, na medida em que o que é dito da
figura é tratado como aplicado ao Antítipo. Com isto concordam as palavras de Paulo
em 1 Coríntios 5, quando ele diz: “Cristo,
nossa Páscoa, foi sacrificado por nós”.
Em segundo lugar, houve
o ato cruel e vingativo do soldado com a lança. Vendo que Jesus estava morto e,
portanto, ele não tendo autoridade para quebrar seus ossos, furou com uma lança
no Seu lado. Ele fez isso sem o menor entendimento do efeito significativo de seu
ato. Mais uma vez, porém, aquilo que estava no conselho Divino foi levado a efeito
e uma Escritura encontrou seu cumprimento. O profeta Zacarias havia declarado que
finalmente o espírito de graça e de súplicas deveria ser derramado sobre a casa
de Davi e os habitantes de Jerusalém, “e
olharão para Mim, a Quem traspassaram” (Zc 12:10). Observe aqui como o ato do
oficial subordinado é tratado como sendo o ato daqueles cuja determinação e vontade estava na raiz de tudo o que aconteceu.
O soldado romano era apenas o instrumento dessa iniquidade e, no dia vindouro, o
remanescente arrependido de Israel reconhecerá isso como o ato de sua nação. Não
reconhecemos ainda hoje que o golpe com a lança tenha sido a expressão terrível
do ódio do homem e da rejeição desdenhosa contra o Filho de Deus?
Mas o evangelista concentra
especialmente nossa atenção no resultado desse ato brutal – “logo [imediatamente – JND] saiu sangue
e água”. Quando, no versículo 35, ele afirma solenemente a veracidade de seu
registro, para que a fé possa brotar no leitor, é a isso que ele se refere. Em primeiro
lugar, este ferimento no Seu lado demonstrou publicamente que a morte realmente
aconteceu. Em segundo lugar, por ele, Seu sangue foi realmente derramado, e temos
apenas que lembrar que “sem derramamento
de sangue não há remissão” (Hb 9:22), para perceber a importância desse fato.
Em terceiro lugar, sabemos o que os resultados graciosos e abençoados fluem para
nós individualmente quando a nossa fé alcança e repousa no Cristo que morreu e no
sangue que Ele derramou. Portanto, não nos surpreendemos com a forte afirmação de
João sobre a verdade de seu testemunho.
Mas a água veio, assim
como o sangue, e fazemos bem em estudar o significado disso, pois João repete isso
em 1 João 5, onde lemos que Jesus Cristo veio “por água e sangue”, e é enfatizado que foi “não só por água, mas por água e por sangue”. Se o sangue fala de expiação
judicial, a água fala de purificação moral, e ambos são absolutamente essenciais
e só podem ser encontrados na morte de Cristo. Há sempre uma tendência a separar
os dois. Quando João escreveu, a tendência era enfatizar a água e ignorar ou menosprezar
o sangue, e essa tendência ainda é poderosamente sentida, pois há muitos que gostam
de pensar em Sua morte como tendo um efeito moral sobre nós, enquanto eles não gostam
do pensamento da morte pagando o salário do pecado e, assim, efetuando a expiação.
É bem possível, é claro, encontrar o extremo oposto naqueles que não reconhecem
nada além do sangue derramado por nossos pecados, e assim negligenciam a necessidade
daquela limpeza moral da qual a morte de Cristo é a base totalmente essencial.
É notável também que no
evangelho temos o registro de João quanto ao fato, enquanto em sua epístola tanto
a água como o sangue são considerados como testemunhas, juntamente com o Espírito.
Eles testemunham “que Deus nos deu a vida
eterna, e esta vida está em Seu Filho”. Sangue e água saíram do Cristo morto.
O Espírito foi derramado do Cristo ressuscitado e glorificado. Juntos, eles confirmam
que, enquanto não há vida em nós, temos a vida eterna no Filho de Deus.
José de Arimateia aparece
agora no exato momento em que pode servir ao propósito de Deus. Ele é mencionado
em cada um dos evangelhos, e cada um nos fornece alguns detalhes específicos sobre
ele. Mateus nos diz que ele era rico e discípulo. Marcos o chama de ilustre
membro do sinédrio (ARA) que esperava pelo reino de Deus. Lucas diz que ele era
um homem de bem e justo e que não consentiu com o conselho e a ação da grande maioria
do sinédrio em condenar Jesus à morte. João admite que ele era um discípulo, mas
oculto por medo dos judeus. Então, aparentemente, ele estava em uma posição semelhante
à dos fariseus, que são mencionados em João 12:42-43. Ainda assim, maravilhoso dizer,
nesta hora mais sombria, quando tudo parecia desesperadamente perdido – como testemunha
a atitude dos dois discípulos indo para Emaús (Lucas 24) – José encontrou coragem
e foi a Pilatos com o seu pedido para ter posse do corpo de Jesus. Marcos é quem
nos diz que foi ousadamente a Pilatos, e a decisão do governador foi suplantada
por Deus. Isaías havia declarado que ele deveria estar “com o rico na Sua morte”, embora o sepulcro que Lhe fora designado
era com os ímpios. Os judeus não desejariam nada melhor do que Ele ser atirado violentamente
sob um monte de pedras com os corpos dos malfeitores. Mas Deus cumpriu Sua própria
palavra, primeiramente por meio da súbita ousadia de José, e então por meio da disposição de Pilatos de impedir
os judeus por causa de sua irritação com eles. Deus tem influência em todos os lugares,
e todas as coisas servem ao Seu poder.
Neste ponto, Nicodemos
aparece novamente. Mencionado em nenhum outro lugar, ele é mencionado três vezes
em nosso evangelho. Primeiro o vemos como um questionador, mas precisando ser humilhado
e trazido de seu alto estado como fariseu, mestre e governante em Israel. Ele deve
nascer de novo. No final do capítulo 7, o encontramos levantando uma leve objeção
ao mau conselho e ações do sinédrio, e defendendo o que é certo, e sendo desprezado
por sua crítica. Agora o encontramos dando um passo adiante se antecipando. Ele
se identificou com Jesus em Sua morte mais definitivamente do que jamais fizera
durante a Sua vida. Ele também deve ter sido rico, a julgar pela quantidade de especiarias
que ele trouxe. A crise, que havia paralisado os homens que haviam se identificado
ousadamente com o Senhor em Sua vida e ministério, havia estimulado esses homens
tímidos e cautelosos, que até então não tinham sido reconhecidos, em ousadia e ação.
Verdadeiramente a onipotência tem servos em toda parte!
Um outro ponto permanece
no final do capítulo. Perto do local da crucificação havia um jardim e um túmulo
na rocha. Somente Mateus nos diz que era o próprio túmulo de José; ele também diz
que era novo; Lucas e João são mais enfáticos a esse respeito, dizendo que nenhum
homem antes esteve ali. Foi predito por meio do salmista que Jeová não permitiria
que Ele visse corrupção, como lemos no Salmo 16:10 “nem permitirás que o Teu Santo veja corrupção”. Isso significa que
o corpo santo de Jesus, apesar de sofrer a morte, não foi de modo algum tocado pelo
processo de desintegração e corrupção, como todos sabemos. Mas também significava
que Seu corpo não deveria entrar em contato com isso externamente. Quando Deus cumpre
a Sua palavra, Ele o faz com perfeição e plenitude.
Assim, como dissemos,
quando o Filho Divino sofreu, a mão da Onipotência ofuscou todos os homens e todas
as coisas, de modo que tudo o que Ele havia declarado por meio dos homens santos
do passado pudessem acontecer. O conselho do Senhor permanecerá.
[1] N. do T.: Sistema de governo baseado no poder absoluto arbitrário de um
monarca ou ditador.
[2] N. do T.: Calcanhar
de ferro era um instrumento de tortura usado na antiguidade.
[3] N. do T.: Autocracia é o sistema político em que um só indivíduo exerce
esse poder como governante e pode assumir as formas de despotismo, tirania,
ditadura, oligarquia, autarquia ou monocracia.
[4] N. do T.: “Jota” – Refere-se à letra hebraica “ י
” (yod), a menor no alfabeto hebreu (Mt 5:18). A palavra usada é “jota”, que é
a palavra grega equivalente para a mesma letra. “Concise Bible Dictionary”, pág.
454.
[5] N. do T.: “Til” – Suposto como se referindo ao menor sinal no alfabeto hebreu que serve para distinguir uma letra de
outra, como “ ב ” diferencia-se de “ כ. ” – O menor ponto da lei deve
ser cumprido. Mateus 5:18; Lucas 16:17. “Concise
Bible Dictionary”, pág. 776.
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